quinta-feira, 13 de junho de 2013

Poema de Amor VII

Na ressaca do Natimorto, do Mutarelli. Grato, Diana.

Arrumei um vício.
Isso.
Cujo viço
risca o disco
limo pétreo
contra olhar marmóreo
marulhar corpóreo
quebrando erosivo

um vício velho
egrégio e régio qual mendigo
um brejo bronco brinco e baço
em que faço-me umbigo
novo umbigo digo
novo corpo visgo biso
frouxo coxo e tosco riso
nenhum risco
nem
um
risco

enfeixo um facho de pelos à boca
órgãos à boca
bocas à boca
tabaco pouco à boca
fumaça crassa baça
enreda-me rota
alterada
escrota
telepática
dessemelhante ao cerne
ao germe
da moção prima
ora
moção sem mocinhas

fumar um maço de moças virilhazinhas

Inferno

"EU QUERO O INFERNO."

Agora é que são elas, Paulo Leminski

Inventário de perfumes
o armário do banheiro
bem como o cheiro acusticamente tratado
o vapor no espelho
o cheiro no espelho
o perfume condensado no banheiro
o perfume barato
o desodorante comum
o cabelo ainda molhado
ou penteado de gel
cabelo seboso contra o vidro contra o encosto
o seda doce e vulgar da mulher trote
frugal phony fêmea
pseudópodes eternamente pelados
o cordão de latão
a prata do latão
preto
homem preto
o menino preto dentes alvos alva no cartaz do ponto com esta porra
[folclórica de bola hermética
patético futebol demagógico
domingo às madrugadas
Central Rodoviária
Inferno maleita odor doce nauseabundo
e a menina tipo sexta à noite
tipo em trânsito
tipo madrugadas brisas
tipo a bunda emergente e doidaça gradual demonstrada debaixo da
[saia curta
as coxas no tronco e o tronco na testa
atrás de cerveja
tipo mais cerveja
tipo foder
tipo foder o inferno
do avesso o inferno
ternamente o inferno.

Idiota

embora escrito antes de assisti-lo, na ressaca de A Caça, do Thomas Vinterberg.

Isso que ela diz
Isso provavelmente é mentira.
Não mentira arquitetada, mas um engano.

O cara provavelmente é um idiota.
Um idiota sortudo pra caralho que não soube aproveitar a sorte.
Ou que soube até demais, um idiota muito inteligente,
o pior tipo de idiota.

O idiota perigoso.
O idiota que reúne gente a mancheia ao redor,
ou o idiota que sabe falar,
no sentido de que é ligeiramente bem articulado,
mas é um lisonjeador,
um pela saco de marca maior,
um merda, mas um merda sagaz.
Um merda que incuba e inocula fatos
como fetos in vitro
plenos de medo e merda e morte
e assassinato

Um merda assassinariamente inteligente.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Basbaque V

A partir de para Luísa e Laura

"Lá vai a Terra, meus filhos
levando seus assassinos"
A Terra, meus filhos, Tom Zé

A Laura falando de Viewpoints, a voz e ela são ameaçadoras.
Nela se concentra parte do núcleo da Terra.
Força gravitacional, campos magnéticos, temperaturas altíssimas e
[mortais.
Não somos nada.
Tomara que fiquemos vivos, as ideias e éticas,
e nossos yogas nos salvem saudação ao sol,
comunique-lhe o astro nossa presteza e prontidão com os ciclos
[terrestres,
e a Terra não se lamente amarga a Saturno como transcreveu Tom
[Zé,
(não tanto tudo
que há, namorada, de fácil um dissabor ainda dizer
seus seios
a seus anéis)
os sussurros codificados propagados no vácuo
nem nada disso.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Basbaque IV

A dura arquitetura dos prédios das ruas do Rio são rostos enrugados
[e virados de ontem,
também bêbados, os motivos são distintos e vários. 

Todos estão no mesmo barco. 
Curtindo todos o mesmo barato.

Flácidos e plácidos, flancos digeridos pela erosão como as
[montanhas, as rochas. 
Voçorocas esfarelantes em pedras portuguesas.