quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Sexo III

Sou uma mulher acima do peso. Atraente o suficiente, assim o penso, para ocasionalmente arrumar alguma coisa. Assim, às vezes chupo um pau, me comem, etc. O que significaria dizer que em termos de sexo eu provavelmente não sou problemática. Talvez então seja correto dizer isso. Também se aproximam mulheres. Eu não curto muito. Mas ok. Descobri que devo chupar bem uma boceta, o que se afigurou como algo no mínimo surpreendente para mim.  As vezes que o fiz, foi sob efeito de álcool, enfim, nada comprometedor, antes catalisando um processo do que propriamente materializando algo bizarro do nada (isto é, o álcool simplesmente adiantou algo que já ia acontecer e não em absoluto provocou um absurdo pelo qual eu não me responsabilizo), na medida em que suaviza um julgamento relativo aos efeitos do odor sobre meus sentidos, bem como da aparência monstruosa, e também de pensar antecipadamente sobre como serei vista depois de ter chupado a boceta em questão, ainda que ninguém venha a saber, isto é, supondo que eu peça à dona da genitália que não conte a ninguém, afinal de contas - eu diria envergonhada - eu nunca fizera aquilo, etc., ou algo do tipo, eu ainda teria que me conceber como alguém que chupou uma boceta. E aí algum infeliz me pergunta numa situação social casual, num tom amistoso e franco que espera reciprocidade, mas você curte mulher?, e ele acha que consegue ler minha cara, a qual estaria para além da minha resposta, ou que o meu titubeio diria mais que a minha resposta. Foda-se. Estou acima do peso. Consigo pegar grandes quantidades de pele do meu flanco e esticá-las, longe do corpo. Na direção de rasgá-las, aí um torniquete se faria necessário. Tenho medo de esticar até onde parece que é de fato capaz de ir. Sem falar que tenho medo de que não voltem para o corpo, que fiquem penduradas. Destino comum da pele. Dependurar-se. Como um saco. O corpo velho é um grande escroto. Foda-se estou acima do peso.

Ontem, por exemplo, estávamos numa festa. Aí um carinha tava olhando pra mim. Geralmente quando isso acontece, arrumo uma bebida; ou arranjo eu mesma ou peço pra alguém perto de mim arranjar. E rola alguma coisa. Qualquer coisa. É foda, eu não tinha nem meia hora de festa. Não que preferisse, sei lá, escutar a música e dançar. Não, de fato, eu prefiro foder, mas achei meio fodido da parte do maluco lá. Pelo jeito não devia ser cedo pra ele, tava com aquele olhar escroto de bêbado. Pensei ok. Talvez seja correta a postura dele. Só que tenho que entrar na vibe. Isso eu. Era meio bonito até. Pelo menos de longe. Chegou perto de mim e falou duas coisas. “Oi” e “Você...”. Disse oi depois do oi dele, e botei a mão no peito dele depois do você. Eu segurava uma dose de vodca. Botei a mão no peito dele, abri um sorriso, Segura pra mim um instante?, vou no banheiro. Ele balbuciou, Pode beber? Só se você pegar outra pra mim. Virou a porra da vodca de um gole. Deve ser um idiota. Olhei meio horrorizada praquela idiotice. Mas quando ele sorriu de cara inchada, uma gota babada escorrendo pelo queixo, sorri de volta. Foda-se. Entrei no banheiro, ergui a tampa, providenciei não sujar a bunda na bandeja mijada, papel higiênico, etc., sentei. Queria mais era cagar, mas mijei apenas. Um gesto demonstrando alguma raiva, seria. Tava tocando Lady Gaga a essa altura. And I lay in bed I touch myself and think of you. Sim, isso merecia merda.  Sei lá, acho que tem a ver. O mijo já descia e eu não tinha a paciência de tentar buscar a disposição psicofísica para um acionamento dos intestinos tão racionalmente deliberado num espaço tão comunitário quanto aquele banheiro (um acionamento que não combina muito comigo:  – 1. quero cagar; e 2. cagar, em resposta imediata. Sou do tipo: – 1. merda, preciso cagar; e 2. correr pra dar conta da solicitação fisiológica torcendo pelo final feliz). Tinha isso, o banheiro era bem perto dos ajuntamentos de pessoas chapadas. Então o cheiro ia empestear o lugar. Claro que pelo avanço do entorpecimento de corpos, o mau cheiro entraria numa conta comum, que ninguém endereçaria a mim, mas àquele corpo somatório dos corpos presentes, uma merda de vários cus juntos. Algo assim. Geralmente é mais compreensível quando alguém vomita. Enfim, destilados e gente na faixa dos vinte-trinta, tem sempre quem se foda. Se bem que rola sempre o olhar de por cima da galera que não vomita, do tipo “é, que pena a pessoa não saber seu limite”. Às vezes esse vômito é justamente uma modulação hiper soft core de um suicidiozinho. Em outros termos: foda-se o limite. Estou aqui tentando me matar e você se achando foda e lamentável o fato de que eu bebi demais e você não. Ah vai se foder. O mijo já tinha parado de sair. E eu ainda lá. Não sei por quanto tempo permaneci sentada. Umas gotas presas nos pelos. Fiquei puta porque tinha deixado a merda da vodca com o idiota lá fora. Que aliás foi realmente ajudado pelo jogo de luz e sombra da festa. Era cara de playboy regular, braço gordo de academia, dente branco esquadrinhado, cabelo cortado, cara parecendo bunda de bebê, o rosto vermelho queimado de praia duma maneira ridícula, quando até os olhos ficam vermelhos, cabelo penteado e duro tipo secado com secador. Com a língua menos pesada e pastosa deve ser daqueles rapidinhos, que fala coisas rapidinhas, solta umas piadas escrotas se achando foda pra caralho, e deve se achar o fodedor.  Assim, ele era bonito, mas meio: bonito-porque-vendeu-a-alma-pro-diabo. Algo assim. Aí eu precisava de mais vodca. Aí peidei. E pensei, hum, pode ser que eu venha a cagar de fato. Então esperei. Me ensinaram a não fazer força, que isso estraga o cu. Arrebenta o cu, estoura as veias, pra ser mais precisa. Peidei. Pensei ok, talvez role mesmo, já parecia que começava a sentir alguma coisa se anunciando no tecido do intestino, algo se movendo.

À porta ouvi sua voz novamente.

Desculpa, é, qual o seu nome? Falei qualquer nome. X., cê tá bem? Tô, e você, tá bem? Quê?, tô, é que você tá há um tempo aí. Só tem esse banheiro aqui? Hã?, não, tem outro, acho. Então o pessoal não tá aflito por conta de não poder mijar aqui né? Não. A galera tá mijando de boa então num segundo banheiro. Não, sim, eles tão ok, mas cê tá bem? Sim e você? Quê? Cara insuportável. Tá com a minha vodca aí? Tô. Cê já viu mulher pelada? Quê? Caralho. Já viu Pulp Fiction? Quê?, Pulp fiction, sei, já vi. Então, if you say what again, já viu mulher pelada? Já. Então cê entra aqui rapidinho?, vou destrancar a porta. Aí fui me levantar e caguei. Ah, haha, só um instante, já vou abrir. Tá. A voz saiu com aquele embargo de merda sendo expelida pelo cu. Ri. Esperei até tudo sair.

Levantei, olhei. Estou acima do peso. É, tinha cagado mesmo, quem diria. Destranquei a porta. Me olhou pelada, boceta, coxas, pernas, pés. Deu um sorriso escroto. Puxei pra dentro. Tranquei a porta. Peguei o copo da sua mão, mais cheio que o último, e virei. Sorri pra ele, sorriu em resposta, meti a mão na calça e peguei o pau. Já tava até meio duro e molhado. Beijei ele na boca. Mas rapidinho e tal. Fechou os olhos durante, abriu-os naquele ritmo típico sonolento. Ainda nem tinha olhado pra boca da latrina. Despenquei minha cabeça na direção, apontei com o dedo. Se liga. Ele olhou e tomou um susto, ficou sóbrio por um instante. Caralho, que nojo. Eu que fiz. Porra, que nojo. Nem limpei a bunda. O quê? Aí ele olhou pra mão, filho da puta, tinha enfiado a mão na minha bunda, e eu nem tinha sentido. Tinha merda nas pontas dos dedos, de três, sem contar o mindinho e o polegar. Perguntei. Ai, que nojo, cara, cê curte essas coisas? Eu?, achei só que você tava pelada, só querendo dar. Meditei brevemente. Se você lamber sua mão, eu te dou agora. Quê? Does Marcellus Wallace look like a bitch?, so why are you trying to fuck him? Gritei, imitando o Samuel L. Jackson, rindo. Mas isso é merda. Tô ligada. É merda, porra. E é minha, não escrotiza.

Aí uma merda de um dilema que esse idiota não esperava encontrar num sábado à noite. Se eu lamber, você me dá? Dou. Sério? Pra caralho, dou muito sério. Olhou pra mão. E se eu não lamber? Não dou, né, cara, que pergunta. Não? Não. Por quê? Hã?, cara, é simples, você lambe, eu te dou, não lambe, não te dou, fim. Tá. Devagarinho, lambeu um dedo. Urgh, que nojo, caraaalho. Não vomita. Não. Sério, não vomita. Tá, não vomito, que nojo.  Caralho, fiquei com mó tesão. Rolou um engulho nele. Deu uma babada, aqueles sons de goela, quase vomitando. Não vomita, porra. Tá, urgh... – engulho. Caralho, não vomita essa porra. Ele olhando com aquela cara de idiota pros dois dedos faltantes. Me ajoelhei, abri a calça dele e puxei o pau pra fora, já meio mole pela recondução do sangue a áreas mais capazes de lidar com a situação via inteligência aeróbica e enfiei na boca. Chupei um pouco. Ele parou, destensionou alguns músculos, deu uma gemida. Parei. Concentra aí e não vomita. Caralho. Enfiou os dedos na boca e chupou tudo, ficou bem limpo. Deu um arroto, caiu no chão e vomitou na privada. Porra. Enfiei o pau dele na minha boca, já mais duro e ocupando mais espaço.

Minha mão na minha boceta e me masturbando ao mesmo tempo. Continuou vomitando. Acho que era a conta da noite e tal. Coitado, não saber do próprio limite. Haha, tipo isso. E a merda. O pau ia ficando mais duro. E os gemidos de pós-vômito e da chupada. Vomitava curtindo a chupada. Uma hora parou de vomitar e gozou. Tremeu. Tirei o pau da minha boca e ele gozou o resto no chão. Também gozei de minha parte e por minha conta. Cuspi a porra na pia e lavei as mãos. Deixei a bunda suja mesmo. Boa noite. Beleza. Apaguei as luzes, saí do banheiro e fechei a porta. Falei com as garotas que tava indo. Já? Já, um carinha hiper maluco aí, saiu vomitando comigo no banheiro, bizarríssimo. Putz e quem é? Ah sei lá, um cara aí. Bonitinho, pelo menos? Até era, mas maluco, sabe, prefiro não. Sei, mas cê vai sozinha? Pego um táxi, tá tranquilo, tô com grana. Beleza então. Beijo. Beijo. 

sábado, 16 de novembro de 2013

Justiça

Isto não é em absoluto o que fiz. Havia haveria evidências poderia haver várias evidências porém talvez nenhuma. Talvez nenhuma testemunhada por outrem. Talvez nenhuma novamente. Isto não é minha mão se encaminhou por bandas que não havia desenhado, por bandas que não havia, não, isto não é o que fiz, alguém entrou e mudou tudo, desfez, há outra obra, que não é minha, pode ser ter sido a partir da minha, mas não é a minha de jeito maneira, não é a minha, isto não é em absoluto o que eu fiz compreendo. Faço-me fiz sei que não fiz isto alguém entrou e mudou fez desfez tudo fiz não isso o que vejo e que alguém desfez o feito por mim não foi isto agora aqui que fiz senão outro alguma outra coisa que foi conspurcada de cujo conspurco saiu isto. Minhas bandas as bandas que minhas mãos designam quando se movem moveram não reconhecem o que ora veem não reconhecem em absoluto no que vejo o que fiz, não reconhecem o que fiz no que vejo. No que prendo a atenção não é minha em absoluto o que fiz minhas mãos cujas linhas que designam e as bandas por estas bandas por aquelas bandas andar por estas por aquelas bandas elas designam não reconhecem no que vejo o que fiz não é o que fiz não é isto em absoluto o que fiz. Alguém entrou desfez o que fiz ao desenhar as bandas as linhas que minhas mãos perseguiam afoitas de menor afã seja lá quem for quemquerque etc tenha vindo desfeito fissurado o que era minha e agora em absoluto não é o que fiz. Alguém entrou e cuspiu e agora me aponta em riste me irrita me tenta tenta me irritar com o dedo em riste e talvez seja que tenha feito desfeito o feitio do que fiz para me irritar e me em riste o dedo indagar ou acusar ou indagar perante o testemunho vário de outrem mas de modo a que a indagação sirva de acusação uma insinuação estou como um réu isto não é em absoluto o que fiz digo repito de tal modo insistente e pouco interessante e convincente e sensual e crítico que mesmo eu em sendo eu tal como réu em minha divina ignorância gostaria de me ver linchado e detesto a tolerância que separa as unhas afiadas de outrem de minha garganta, da ruga rosa roxa rubra rósea subcutânea. Não é em absoluto o que fiz. Meu músculo não é o que fiz fez o meu músculo não é o meu músculo que fez o que fiz e o que foi feito desfeito do que fiz o conspurco do que foi feito do que fiz não é o que fiz não fiz o que foi feito do conspurco do que foi feito do que fiz. Não é em absoluto o que fiz. Admirável divina ignorância superposta àquela sim perto de deus, a que se sobrepôs a ignorância tida dita raciocínio sobre a divina via de fato via de regra egrégia, não sinto em conúbio santo a ignorância insuflando mãos cuspindo unhas arando os minúsculos sulcos superficiais de minha derme os freáticos lençóis sanguíneos tão colesteróicos e fodidos em geral aflorando à superfície dizendo aqui está sendo feito algo deste que fez isto estão sendo feitos fartos votos violentos raivosos ante vedada a verdade dos veros olhos de todos nós cujo medo é velho coetâneo do mundo veraz velho e viável ainda viável vê-se parecer viável uma vez ante vedada a viabilidade de mundo e é isso aí mas, dizia, o conúbio entre a referida e minha garganta rasgada. 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Incidente

Sobre a janela havia um copo que terá caído. Fora afora. Quase cheio. Não me lembro de seu conteúdo. Talvez fosse escuro. Lembro-me de algo escuro. Pode ser que o copo fosse escuro, daí qualquer conteúdo (em tais circunstâncias, a água seria pelo menos tão escura quanto o copo) ter sido escuro, qualquer que pudesse ter sido escuro. Que terá secado no chão afora uma vez caído. Talvez aí aclarando-se.  Ou escurecendo quanto qualquer líquido na pedra. Mas isso será depois.

Eu já tinha me deitado e terei me levantado, antes de saber de seu sumiço. Não verei mais o copo. E pensarei que devo tê-lo guardado. Ou colocado em outra parte, pois não me lembrarei de tê-lo guardado. Aquela marca redonda deixada pelo copo me colocará dúvida. Esteve aqui, estava, me lembro – lembrarei – e agora está – estará, terá sido posto – em outro lugar. Perguntarei a ela do copo. Ela me terá dito que colhera os cacos fora. Fora direi inquirir. Fora ela. Quando. Sim ontem ou. Então não será certo, digo, não está ou é certo. Caiu. Caiu (?) você derrubou? Eu? Você. Eu não sei. Eu não sei – não saberei. A marca ali se anunciará.

No olho do espírito, vejo duas, uma auto relevada de água, pode ter sido sulcada (inversamente, um sulco na atmosfera) em função da água, dentro, ou a que escorreu, fora, da condensação do conteúdo – escuro ou claro que seja – frio de dentro. Ou marca já – será então – seca de café. Duas alternativas. Pretendo a suspeita que se excluam. Sendo que uma delas se subdivide. Anúncio de que ele ali estava. Não terei sabido por quanto tempo. Eu, como a marca, anuncio a ela que ele ali estava. Sim ela caiu. Caiu (?) você derrubou? Eu (?) talvez o vento. Estava quase cheio. Um vento mais pesado. Não. Pode ter evaporado. Ou isso – já isso talvez. Terá se evaporado, e não mais pesava, senão o copo, seu peso somente, e um vento o terá – teria – derrubado.

Não necessariamente pesado, se se é dada a suposta evaporação, entretanto, se não, terá – teria – sido suficientemente forte ou pesado para empurrar o copo, por sua vez pesado (feito pesado por seu peso acrescido do peso do conteúdo). É preciso considerar, entretanto, que a segunda hipótese (apresentada primeiro por ela) foi recusada e foi dessa recusa que se aventou – tratou-se de um verbo acidental, refaço a oração – que se levantou – apesar da queda – a hipótese da evaporação. Por quanto tempo terá ficado lá o copo a ponto de que evaporasse todo ou parte suficiente de seu conteúdo em razão de um vento (não necessariamente, mas suficientemente forte) que o derrubasse.

Pode ser que ela o tenha jogado ou deixado cair. E não me contará, terá mentido. Eu não saberei por que terá mentido. Eu não me importava com o copo, isto é, a ponto de justificar semelhante mentira. Importava-me na medida em que cumpria bem sua função. Fosse um copo rachado, por exemplo, daria ainda menor importância, na medida em que geralmente uma rachadura configura uma aparência menos aprazível, mas não era o caso. Porém, nada aparente que justificasse uma mentira. Eu me importava antes com saber o que terá – teria – acontecido. O que foi? Caiu? Caiu. E você. O que? Você jogou? O copo? O copo. Se eu joguei o copo? É. Você acha que eu joguei o copo pela janela e estou mentindo pra você dizendo que um vento derrubou o copo? Estou só perguntando. Eu também estou só perguntando, você acha? Não. Então você tá de sacanagem. Não. Então você acha que eu joguei. Eu não sei. Eu já te disse que caiu. Você viu cair? Eu vi ele espatifado no chão. Mas viu cair? Não. Ouviu cair alguma coisa? Não, vi quebrado no chão, catei a porra dos cacos do chão. Você não jogou. Não. Pode ser que mentisse para mim. Não sei, saberia, terei sabido, antes de saber de seu sumiço. Eu já tinha me deitado e terei me levantado antes de ter caído o copo, parecerá – seria. Ou saber de seu sumiço. É o que terei sabido antes de dormir novamente e não ter ainda sabido que caiu – terá caído, cairá – o copo. Sumido, ao menos.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Agora sim

love so deep
kills you in your sleep
it's true

David Byrne

Assim: angústia perene, interpolada por alguns momentozinhos de outra coisa, como fosse condenado a viver debaixo d'água com poucos momentos para respirar. Alguns desses momentos eu respiro numa boa, é uma merda estar debaixo d’água, mas vou lá, respiro, ok, outros nem sinto o prazer de sorver o ar, mas simplesmente respiro para não morrer afogado, é somente ligeiramente diferente de estar debaixo d’água, o ar entra e me mantém vivo, me retorna à agonia de viver sem ar e sem poder me mover como deveria, fora da água, pois estou dentro d’água, não estou nunca onde quero estar ao tempo em que desejo lá estar, as braçadas me custam muita energia e meu esforço não corresponde a meu deslocamento, desloco-me pouquíssimo, para quantidade enorme de esforço e consequente cansaço, sendo que há outros a meu redor, desempenhando calmamente suas funções, também eles na pressa de estar ou de chegar, porém rejeitam suas implicações danosas e dolorosas como o corpo rejeita o que quer que seja num espirro, numa tosse, num vômito, o problema deles é meu, que é deles torna-se meu, eu devo ser responsável pela minha pressa e pela pressa deles, se esbarram em mim, esbarram calmamente, sendo que, aqui, o esbarrão demora, os dois corpos se esfregam, um ao longo do outro durante muitos segundos, as trajetórias se suspendem por um tanto, eu me desespero, ele talvez queira me matar, ou cuspir em mim, ou talvez se contente com uma observação mal humorada, que no fundo talvez queira dizer, “você me atrapalha, o fato de que você está aí me atrapalha” e pior “o fato de que você possa vir a estar aí me atrapalha”, mas estando vivo eu posso sempre vir a estar aí ("aí" que é qualquer lugar, uma vez que em qualquer lugar é possível encontrar um interlocutor), ou seja, eu, porque existo, atrapalho, eu, porque existo atrapalhadamente, porque não consigo fazer funcionar trajetórias simples experimentadas como cotidianas pela maioria (ou, ao menos, aparentemente assim o é), atrapalho, eu, ao invés, experimento-as como uma viagem ao núcleo duro de angústia, infernal e mortífero, e necessito me queimar, e necessito bater minha cabeça, cortar minha orelha, e necessito causar-me dor, porque eu ainda não sou capaz de duvidar da dor. A dor é sincera, isto é, a dor franca e totalmente física, claro, que em alguma instância essa angústia é também física (se primeira, última ou intermediária, já não sei), porém, a dor da agressão aos tecidos é mais direta e menos simbolizável, menos metafórica, pode-se conjeturar a respeito de “mas por que ele faz isso”, mas não a respeito de que aquilo dói. E é bom que doa, e que sangre ou verta pus, e que a cicatriz fique lá me lembrando: não é que tudo tenha sido tirado de você, você ainda pode se matar. Essa possibilidade, não obstante, ainda é muito fictícia, matar-se, (matar-me), pois é preciso que se passe por cima de muitas coisas. Por exemplo, si, a ideia que se faz de si, exterminador de si mesmo. Si como praga. (Em sendo si já sido, determinado, levado a cabo, terminado, exterminado, posto a seu termo, em seus próprios termos de seu próprio término, o fim de si pelo si sido, o termo em termos próprios de si não é determinante, terminante, isto é, é preciso que já não se seja si, para se terminar, auto determinar, ou melhor, o suicídio, melhor pensá-lo como extermínio de si, indeterminar-se). Mas também planos, planos de si e para si. Tudo que poderia ter sido. Nostalgia do que poderia, e, pior, aqui, do que poderá ser se não se fizer isso agora. Minha vida era-será tão boa, e eu pondo fim a ela. E quanto a o que serei? E o que haverá depois de ultrapassados os problemas terríveis e lancinantes de agora? Como pode ser que eu me mate? Logo eu por fim à minha vida? Estou estarei errado? Impossível saber. Posso pensar: sim, considero essa possibilidade porque os problemas estão especialmente terríveis, e já é sabido que os problemas, é possível dar fim a eles, ou melhor, resolvê-los. O problema é tal que a condição em que me ("me" talvez generalizável, isto é, arregaçável para abarcar outros) encontro significa sazonalidade de horripilância de circunstâncias. Da frigideira pro fogo. E de volta pra frigideira. Não se matar significa esperança de alguma hora melhor, do contrário seria masoquismo. Existe, sim, a hora melhor. Mas e daí?

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Sexo II

Sua boceta era uma racha, claro todas são, mas esta, enfim, eram calotas as coxas, caroços moles, maiores que cabeças, gordas e negras, um continente de pele, de peles, em meio a todas as linhas que em algum ponto curvavam-se ligeiras, linhas de coxa e virilha, vapores e suor cuspidos das dobras, siderurgia, âmbar escuro incandescente e quente, então uma reta entreaberta, sua boceta era uma interrupção bruta, abrupta, nua, o que era demasiada delicadeza, isto é, depilar-se, pois a sua bruteza, fosse ela apenas ela mesma, a bruteza, sem nada daquela mulher, bruteza ambulante, ela, a bruteza, auto-envolvente, já me castigaria em evidente desvantagem, eu menos, ela mais, esteja claro, pois não, havia ainda uma mulher para sorver toda aquela bruteza, vesti-la, vivê-la. Vê-la sem pelos era brabo, era uma surpresa, isso sem dúvida, pelo menos não se livrara do cheiro, não, o cheiro estava lá, todo, enfim, do modo que falo, parece que estava em absoluto regozijo, eu, o que é falso, estava apreensivo, todo, a apreciação dos pelos se deu em função da sincera surpresa, não porque eu estivesse, para além de um suposto regozijo exultante (que não existiu) de ver toda aquela nudez e de súbito detido alegremente por um alegre detalhe, curtindo, o que aliás, isso de ter sido detido por este detalhe, relaciona-se com o não estar regozijando, curtindo, esperava algo menos, isto é, esperava pelos, não vê-los me fez pensar, enfim, a respeito disso, a depilação, uma mulher desse tamanho, duas vezes uma mulher grande, cuja boceta barbada, isto é, seria tão fácil imaginá-la barbada, a boceta, e vê-la nua, a boceta, enfim, não entendo nada disso, nesse instante queria uma opinião que não a minha, a respeito, não sei exatamente a respeito do que. Ela não examina meu rosto de exame sobre ela, ela precisa erguer seu rosto acima de algumas camadas de pele, precisa haver muita distribuição de força para o equilíbrio, a pele é escura, e o escuro da pele e o escuro do cômodo misturam eu e a pele, eu estou muito abaixo das camadas dérmicas, por julgar que entendo o que é preciso para que ela me examine, me esgueiro ainda mais contra o chão, meu peito afunda no chão, como se fosse macio, enfim, estou completamente de frente para a questão, ela sua, está calor, estamos despidos, examino, estendo os braços, estou de frente, mas há muita distância entre eu e a boceta, abro a boca, experiência mimética esteja claro, ela sente, balançou a perna e gemeu, ela sente, ela gostou? Não fiz nada. Ainda. Quer dizer, fiz pouco. As coxas, nelas, as crateras da Lua, a luz sobre ela, o movimento quase involuntário, ou involuntário de fato das coxas, de jure e de fato das coxas, sombras moventes nas crateras, ah, sim, o lado escuro da Lua, Pink Floyd, isso aqui na minha frente é menos pedra de toque que a loucura de Syd Barrett? E isso é menos a loucura que a loucura de Syd Barrett? Quer dizer, o substrato disso, de uma, o que, disso: um disco, vários poemas; o substrato dessas palavras, ser algo que exala um cheiro idealmente, ou seja, nenhum, ou enfim, outra coisa, e as formas de sob controle, isto é, de isto está sob controle, o poético sob rédea curta, somente o apreensível?, [aqui], o que escapa e é feio também não?, porque uma palavra entorpecente para falar de uma coisa terrível: uma fodinha, uma punheta ligeiramente menos banal que as de sempre? Não, o cheiro idealmente está nas palavras e não no real delas. Quer dizer, o Syd Barrett depois ficou careca e gordo e irreconhecível, isto é, com relação ao que ele era. Mas ladeira abaixo? Tudo ou nada? Fica fácil compreender assim. Fica poético compreender assim. Nostálgico compreender assim. Ele tinha tudo e agora tem nada. Facílimo compreender isso. Ele era e agora deixou de ser. Mole. O que ele era era lindo o que ele é é um vestígio do que ele era. Moleza. A propósito tem uns anos que ele morreu. Assim fica até sem graça. É covardia. Não havia a menor ideia de o que se estava falando. É aí que está a loucura da coisa. Aí enfim as músicas do Roger Waters que fazem você chorar, porque ele era um bom letrista, Shine On You Crazy Diamond, (quer dizer, remember when you were young, putz, alto lá, remember é o caralho), enfim, as conhecidas, não é, tem If que não se comenta, pelo menos os caras que eu frequento que se dão ao eventual trabalho de cometer algum comentário não comentam, mas que tem aquele verso “If I were a good man I’d talk with you more often than I do”, puta merda, já isso, isso sim, isso é o abismo. Isso e isso aqui. Se eu fosse um homem bom eu conversaria mais com este abismo. Tem aquela música do Nine Inch Nails que se chama “The Way Out Is Through” entendeu. Eu tenho que atravessar esta mulher. Break on through. Esta boca que me bafeja ogiva escancarada. Uma boca, uma pista, pista segue pela uretra rins estômago esôfago fígado faringe laringe boca, uma e outra, são duas. Toda esta merda não serve pra nada. Arreganha a gengiva banguela rugosa. Desce a mão qualquer coisa de espécie de peçonhento, um bicho peçonhento que se arrasta vagaroso, venenoso, perverso, e, ainda, ansioso, ansiosa, indicando-me o que, ciosa, apontando-me onde, guiando-me onde, estira um trecho, entre dedos, um véu duro aberto, indicando-me o que é, o que é o que é. Eu não. Eu estendo os braços ainda uma vez, abro a boca, as três, o olhar submerge no chão, observo com atenção as irregularidades das aparentemente lisas tábuas corridas, a Córsega na boca, de lá e oriunda dos meus fios de cabelo, o movimento ridículo, insetos invadindo, enfim, tenho que atravessar, um momento, eu disse insetos?, foi isso o que eu disse?, não os vi de todo modo, um engate, engato, sem um engano sequer, a cabeça pressiona, marcha, racha, meto, isto é, na qual há boca, a cabeça, e nariz, olhos, meto, sem metáforas, a cabeça que me permite enxergar porque abriga meus olhos e meus nervos ópticos no meu cérebro, ela encosta, os pelos umedecem, entram, meto, a cabeça entra, aspiro sorvo boceta, tudo é boceta, o que era atmosfera é algo próximo do que sente uma organela numa célula, citoplasmático, se emito uma palavra, o lado de fora não só não a permite como me chupa, minha boca isto é, meu pau é anônimo, heterônimo, e, como diz uma dileta amiga, não tem nada a ver com isso, chupa minha boca e não consegue, ela sente, senta, ou tenta, pelo menos, me bate, tenta me arrebentar, ela esta mulher acima dentro cercando e fora e pulsando, meu pescoço, batido, já se avermelha, é possível, tenho que atravessar, vejo a pista, as luzes que sinalizam, já isso imagino, uma trilha ainda por ser aberta, caberia ao invés a mim instalá-las, requererá mão-de-obra que desconheço, foda, Marx já dizia, alienação indivíduo-espécie, mas eu pensava em proporções mais prosaicas, erguer um lustre, erguer uma parede, uma pista de pouso em uma boceta não me ocorrera, isto é, procurar manuais para tanto, remeto. Mas isso, é claro, é uma divagação. A minha cabeça lá não obstante, remeto. Tenho que atravessar, sair pela boca, correrei o sério risco de ser mastigado, olhar-me de cima, verei meu corpo de fora do dela, uma perna minha como um rabo dela, um pau de andar, uma bengala acoplada, uma prótese supérflua, seremos um feto morto numa compota em conserva em formol, anatômicos universitários bizarros, que contrariando expectativas cresceu saudável, vota, caga, fode, reza, mata, etc., uma perna que sobre ainda fora dela, que reste, procurando apoio, uma segunda cabeça na boca superior, uma terceira perna na boca inferior, meu pau duro fazendo relevo debaixo de sua barriga, debaixo da pele, dos músculos, num cômodo de paredes vivas, rosas mucosas, nenhum regozijo, não exulto, não exclamo, não rio, ela ergue a arcada de cima, apoio o rosto na arcada de baixo, aspiro o hálito, mau hálito, examino o tártaro, uma ou outra cárie, que merda de boca, não preciso me preocupar com discrição, posso até exclamar, que merda de boca, não há ângulo fácil que lhe permita me examinar, me escutar, falta-lhe um espelho e concentração, subiu a perna que faltava, agora apenas essa protuberância de que lhe haja um martelo fibroso no abdômen, meu pau, uma arma que lhe tenta arrebentar de dentro, seu abdômen, que tem de sobra, sobra-lhe abdômen, vasto, coberto de peles negras, espalhadas pelo músculo, o umbigo infinito, ela é gorda, caso ainda não tenha ficado claro, os seios se espalham além do que consigo ver, os braços os cobrem um pouco, achatam-nos, através, saindo, eu, saio eu apenas através, a saída é através, merda.

Cheiro de café seco num copo escroto de vidro, cheira a boceta. Aí estou no banheiro, já posso me reconhecer, voltar a fazer isso, me reconhecer, esta merda de calor, que ridículo, tenho que deixar-me ao sabor do sol, regulador de humor natural, ensopo o rosto, ensopapo-me o rosto, meto alguma porra no ralo, a tampa da pasta de dentes, ela não aguenta o tranco da água, mas ok, enfim, a água entre os dedos, amaina pouco o resto, a mão sua, a textura da água entre os dedos, lavo a cara, estou nu, tiro o grude do pau, ela quase me arrancou, olho-me, uma barba se insinua, não, ou me tome o rosto ou se recolha, não se insinue, porém essa penugem púbica adolescente no meu rosto é patética, fungo o café, cheira a boceta, era isso, às vezes aquele incômodo, nunca soube de que, certo, agora sabia, uma boceta fora de hora, seca, uma boceta seca amarronzada, vestigial, cuspida, babada, ou resto, como numa divisão, o resto. Lavo o copo, o cheiro se manda, fica um tanto o de café, menos, subtrai-se a coisa, café frio, terror. Não, apenas: já houve aqui algum café, não: aqui jaz um café morto. Sim. Há um problema. Ele desde. O problema desde. Quer dizer. Há um problema. Qualquer coisa. É uma maneira de falar dele. Qualquer enfim, rabo ligeiramente mais arrumado cheira que nem ela, nada a ver com cheiros autenticamente hormonais, humores naturais, coisas internas, não, é um perfume, um perfume idiota, desses que se compra em lojas de shopping ou duty free, idiota porque há a cada vez, em toda parte, homens e mulheres, negros brancos asiáticos índios, todos ficam nesse diâmetro de aparescência da essência, e aí fode, um espírito que paira e ronda, uma consistência etérea de aroma, não adianta olhar por cima do ombro, procurar, escrutinar, perscrutar, não há o que, ela simplesmente está por toda parte, sendo que nunca é ela, ela nunca está, só está todo o tempo em toda parte na medida em que nunca está comigo, nunca está aqui, ela está no vômito que limparam do ônibus, mas não limpo o suficiente pra que eu não sentisse quando sentasse, ela e o vômito, está numa mulher mais bonita, numa mais feia, num homem, num cão, na merda, na comida, odor e olor. No perfume que não é o dela, que eu tento cognitivamente mudar, decomponho os disparos estímulos olfativos, comparo e cotejo, e às vezes consigo, o que era quase ela torna-se ela, e quando não consigo já foi o suficiente, é como confundir-se alguém com um estranho na rua, o conhecido já está evocado, já esteve ali, o rosto foi visto e sumiu, mas esteve ali.

Ensopo meu rosto. Aqui ela não está. Limpar-me disso, esse perfume está em toda parte. Menos em mim. Limpar-me disso. É um sarampo, em mim gruda como um sarampo.

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Sexo I

Eu comeria você agora. É? É, tipo agora, comeria você agora, pra caralho, tipo, comeria você agora entendeu. Eu consigo entender isso. Entendeu? Eu consigo entender isso, quando você diz. Entendi. Entendeu? Entendi, você entendeu o que eu disse. Claro. Como? Claro. Isso, eu comeria você agora entendeu, tipo é claro que eu preciso dizer cada vez já que agora enfim, agora, tipo, comeria você agora, aí, quando?, eu digo, agora, que já passou. Ah entendi. Entendeu? Entendi. É disso que você tá falando, de passagem de tempo. O quê? É isso que te incomoda, entendi, você acha isso, é isso que você pensa, é isso? O quê? Claro, eu agora entendi, porque eu tinha estranhado, como ele me comeria agora, eu pensei, que estranho, eu sou feia, entendeu, não espalho coisas por aí, coisas que pessoas bonitas, quer dizer, tem a repulsa, sempre, mas essa é outra, enfim sou feia, a repulsa. Eu comeria você agora. Sim. Apesar de. Não, aí já é muita informação, não sei do que você tá falando, você começa um papo, entendeu, não, eu já entendi, você tem uma parada com a passagem de tempo, e é autossuficiente, porque você fala de sexo pra falar de tempo, é isso entendeu. Entendi. Claro? Entendi, não estava falando de sexo, tem isso. O quê? Eu não estava. Ah, sim, não? Não. Então agora entendi, quer dizer, entendeu?, era só tempo? O quê? Era só tempo, você está evitando, tem noção disso, está evitando, está claro. Como? Assim, claro, entendeu, é isso, você me comeria agora apesar de, eu entendi você, entendeu. Na verdade. Agora vem me falar de. É isso. Não é isso. Quanto a isso discordamos. Sim, está claro, está claro que discordamos, mas tipo, cara, duvido você me comer agora. Claro, é tipo o paradoxo de Zenão. Cala a boca, claro que não é, seu idiota. Claro que é. Idiota. Eu só quero comer você agora. Vai se foder. Já aprendi como se faz isso. Autossuficiência. O quê? Autos-. Ah, é, não. Entendeu? Claro, mas. Qual? Quê? Qual? Qual o quê? Qual paradoxo? O de Zenão. Mas qual? O de Zenão. Mas qual, tem mais de um. Tem? Idiota. Aquele da tartaruga. Tem o da pedra. Como é? Assim. Ai. Ele não era muito esperto. Tá, eu, enfim, mas se cada coisa se mantiver como sempre. Muitas generalizações, vai com calma, eu sou só uma, isso deveria ser suficiente pra você, foder uma de cada vez. Isso quer dizer que cada instante é idêntico ao anterior. Ok, discordo. Como? Como quando você tenta asfixiar uma mariposa num frasco de vidro. Prossiga. Isso e isso essa série, você diz igual, porém é um e um, a relação entre eles você fez, não existe. Claro que não. Eu sei. Eu sei sei também. Não sabe entendeu. Às vezes me pego de surpresa. Não, você não se surpreende consigo mesmo, assim, uma verruga pode te pegar de surpresa, do tipo caralho que isso, mas você?, você faz menos mal a você mesmo que uma verruga. Assim eu até entendo. Comparar costuma esclarecer. Exemplos. Isso. Exemplos. É, vários exemplos. Vários argumentos. Isso. Entendi. 

sábado, 31 de agosto de 2013

meu amor
esteja lá
toda vez
onde quer que
isto é
ali
sempre
esteja lá
mesmo morta
amor
esteja lá
pois
amor
é que estou onde quer,
isto é,
ali sempre,
que,
mesmo morto
amor
esteja dado que esteja


meu amor esteja lá
não importa
ali
isto é
sempre
onde quer que
isto é
mesmo morta
meu amor
não importa
meu amor
mesmo morto
esteja dado que esteja
ali
isto é
morto
morta
meu amor
toda vez
cada vez
meu amor
esteja dado que esteja
isto é
sempre
amor
morta
não importa
meu amor esteja dado que esteja
isto é
ali
sempre lá
meu amor
esteja

terça-feira, 23 de julho de 2013

a mente é uma cova rasa


título extraído de uma entrevista com o Kerouac. Curiosamente a frase não é dele, mas do entrevistador, Al Aronowitz.

"All I ever wanted, all I ever needed is here, in my arms" Depeche Mode

Subimos uns lances de escada. Ela à frente. Estava puta, claro. Claro, mas foda-se também, ia fazer o quê? Não podia fazer nada. Que ficasse puta. Era até bom. Pra ela. Pra mim, nem tanto. Não que significasse tanto pra mim. Era mais do que uma coisa à toa. Mas não era de suma importância. Não era. Era chato porque eu ia até ela e ela com aquela lápide no lugar do rosto. Mas tranquilo. Subíamos, ela naquela respiração peculiar a esses momentos de raiva. Ruidosa. Hoje ouvi uma palavra que não ouvia há tempos, copiosamente. Ela não respirava assim. Mas quando chorava, chorava assim. Arreganhava o rosto, todo mucoso, vermelho, essas coisas. Mas não estava chorando. Subia as escadas. Decidi parar. Decidi que não queria acompanhá-la. Decidi que foda-se, eu podia deixá-la em paz. Falei isso, que ia deixá-la em paz. Ela parou. Virou-se pra mim. A distância entre nós era grande. Ela via isso. Um patamar, duas portas de apartamentos. Sem adornos, pelo menos. Fez menção de descer, deve ter pensado fala sério, continuou onde estava. Perguntou por quanto tempo. Eu disse chega não é. Ela disse é. Então beleza. Depois eu me lembro de três dias depois. Estava nu, tomava banho, havia alguém comigo no chuveiro, não, não era isso, alguém batia à porta, pergunta você tá no banho. O som inequívoco da água no chão do box achava resposta suficiente. Todo aquele som na esperança de não ser ignorado. Ignorado. Eu me recuso a responder. Olho pro meu joelho, está sangrando, pouco, mas está, me ralei parece. Um fio escorre até o chão. Lavo, arde leve, termino o banho, me seco, olho no espelho. Embaçado. Mas é justamente este o meu rosto. Que bobagem, o momento em que alguém ouvirá isto e achará modestamente interessante. Modestamente qualquer coisa. Ou idiota, o que é mais fácil. Olha o que ele disse. Todo mundo pensa alguma merda sobre o próprio reflexo. Chega. Depois lembro de uma porrada no meu cocuruto, caí no chão. Botei minha mão espalmada lá, veio com sangue e suja do chão. Ao meu lado, uma menina nua, desacordada. Parecia alguma rua, meio familiar meio não, ou um estacionamento, os fundos de um restaurante. Um leve porém claro fedor. Quando foi isso. Não havia ninguém de remetente da porrada. Tentei acordar a garota. Dizia, primeiro leve, até quase gritar foi você que me bateu. Perguntei. Aos poucos comecei a afirmar. Dei uns socos nela, como via que gostei e ela não acordava saí correndo dali. Meu joelho me puxava pra baixo. Arregacei a calça, o ralado se estendia maior pela perna. Sangrava. Puta merda onde eu estava caralho. Depois eu nuns cobertores fedendo a porra. Não meus não minha. Terrivelmente. Havia um ser peludo dormindo e roncando ao meu lado, me movi, meu cu doía. Fui em seu socorro, meus dedos voltaram com sangue e um visco outro transparente. Cheirei. Caralho, dei o cu. E nem sei se gostei. Que merda de lugar era esse. Um colchão surrado no chão, conseguiria sentir os insetos debaixo. Seria o caso de procurá-los, não. Aranhas finas apenas no melhor dos casos. Tocava alguma coisa baixo, Frank Sinatra. I’ve got you under my skin. Inapropriado no mínimo. Aquele cheiro de incenso o quarto todo vermelho calor ele suava eu também. Partes da parede descascavam uma ou outra infiltração um quadro do Paul Klee. Deve ser daqueles que a cada oportunidade cita o Angelus Novus. Umas prateleiras com muitos livros. Está escuro o suficiente pra não ler as lombadas. Por isto sou grato. Abajures vermelhos, luzes totalmente terríveis, equivocadas, perfeitas para um mau momento, me vesti. O pau do cara saindo pela coberta. E eu será que enfiei aquela merda na boca. Será que ele enfiou o meu. E eu sei que poderia amar um homem assim. Chega. Depois ouvindo conversas no metrô nunca achei que sentiria falta. Sim são terríveis. Dispenso as minhas que venha a ter com outros. Às vezes, poucas, bem poucas, alguma alheia que interesse minimamente. Nenhuma que valha a pena. Sim, é uma pena pesada. O réu é sentenciado a ouvir por árduos anos, quantos durarem sua vida, conversas alheias. Notícias gargarejadas. Ou seja, tantos anos quantos forem sem saber quem são os personagens das histórias, pegar trechos desconexos que nunca encontrarão conexão entre si, histórias eternamente sem desfechos. Jamais essa conexão tão banal quanto remota. Um fio numa tomada. Me faltavam dois dedos na mão direita. Vomitei. Que merda era essa. Olhei pros lados puto. Sujo. Vomitei em cima de umas senhorinhas. Quanto tempo próximo sangrava. Todo mundo meio caralho que porra é essa mas uma parte meio foda-se também. Meio ih fodeu um maluco brabo. Virando a cara e torcendo pra eu não enxergar ninguém. Mas eu queria a porra dos meus dedos. Caralho, tava sangrando pra cacete ainda. Aquela mistura nojenta no chão. Me tiraram eles agora e eu não vi.  Nem quem nem dedos. Acharam terrível o vômito, mas o sangue ok. Era isso pensei quase perguntando. Eu queria meus dedos. Não que eu precisasse, mas gostava da simetria das minhas mãos. Ah sim pensei. Soquei a parede até quebrar os outros dois dedos correspondentes da esquerda. Arrancar seria complicado assim, sem ferramentas. Estava numa fila de banco, agora sentia meu corpo mais curvado, a minha barriga entrava em meu corpo, não queria protuberar-se. Sentia que cada passo era tremura, hesitação em geral. E se eu hesitasse para sempre. Senhor, alguém me chamou, próximo. Quanto tempo próximo me chamavam. De repente usei meus olhos e compreendi que não enxergavam. Diante de mim o guichê. Eu disse isso perdoe não enxergo nada. Nada perguntou. Nada quer dizer enxergo tudo embaçado. Demais. Tente seus óculos. Sim, botei-os, alguma coisa melhorou. Meus olhos expiaram quer dizer expiraram. Quando foi isso. Vi que havia algumas contas em minha mão, supus que houvesse dinheiro na minha carteira. Fui até ela. Não abri, me detive antes. Minhas mãos estavam manchadas. Manchas de pele marrons de velho. Lá não estavam meus dedos. Dessa vez os quatro. As veias todas à mostra. Senhor. Só um instante. Um cara atrás de mim bufou porra. Olhei era um velho. Me olhava querendo me matar, mas distante. Uma intenção verdadeira e fictícia. Concluí que isto era importante para ele. Pode passar. Ele passou bufando e resmungando. Era gordo e parecia prestes a morrer. Manchas, falta de fôlego, cheirava a cigarro e perfume, a mistura caía-lhe bem, devia ter um saco grande e um pau ignorável ou de todo modo inútil. Quantos problemas, arrastar todo aquele peso por aí. O corpo não aguenta nem sequer a si próprio. Quanto mais o quê. O cara do guichê olhando pra ele. Agora ouvia com atenção a voz dele, era rouca, entrecortada, parecia a pior voz. Onde estava minha carteira. Fui dormir. Aconcheguei-me entre umas pessoas pouco incomodadas. Com cara de tudo bem. Quase me apaixonei assim. Escuro. Uma delas passou a mão nos meus ombros. Vi que estavam ligeiramente recurvos, lembrando um urubu. Sorri. Ela não. Quando foi isso. Continuou, eu vi que não era comigo, mas com meus ombros. Tratei de quedar-me. Não era comigo. Algumas tentavam se beijar. Ou pelo menos parecia. Uma outra começou a tirar minhas calças. Não reconheci minhas pernas. Estavam chupadas. Meus joelhos eram carne estragada. Ainda havia pés. Que horas eram. Perguntei. Deram-me um soco, cedi, teria caído não estivesse espremido entre todos. Fatiaram minha orelha. Gritei. Ouvi que não reconhecia o som. Puxaram meu pau pra fora mandaram mija. Eu ok. Mijei. E aí vocês não são tão terríveis assim mijar eu mijo toda hora. Eles assentiram. De fato. Vozes miúdas, quase não estavam lá. Apenas a dor me convencia. O mijo era demais. Uma coberta natural me aquecia. Tudo de que preciso está aqui, em meu corpo. Lembro de quando ela me disse algo parecido. O Enjoy the Silence do Depeche Mode que todo mundo conhece. Mas era mentira. Tudo se provou mentira. As mentiras se mantiveram mentiras, o que parecia verdadeiro se provou mentira. Rápido. Rápido. Nunca soube bem o que fazia. Jamais o que faria. Impossível dia seguinte que virá. Que viria. Rápido. Qualquer parte. Sair daqui o quanto antes. Não que o passo à frente não seja o passo atrás, que este lugar não seja o último, como foi o último. Mas sair daqui. Chega.

domingo, 14 de julho de 2013

Basbaque VI


nutriz de guerreiros, nutridora, terra, toda a terra amua, crua cura dura, a fria frota de altares transportados via mares revoltos, devagar com o andor, o santo é de sarro, cada vez que dá um ai, meu tarô me convoca, minha mente amua, pudor encrua, pústula nua, múmia amua, o tarô me convoca, breca o ir-me-se-me, sempre que paro é que estou sendo parado, eu já nem estou neste país, resta um rosto amargo de canto de boca, uma lembrança modorrenta amorosa aziável pouco aprazível, senão então, eu já nem estou neste país, de tal modo tanto ou tudo me é alheio como o suor da roupa de outro sujeito que visto, a roupa, isto é, a roupa é que visto, não o sujeito, interpõe-se entre eu e quemquerque um manto diáfano, algo principalmente que dilui sua imagem em outra coisa qualquer, fantasia, filha, ela arranca a rolha da garrafa e abre um vinho terrivelmente doce, seu doce ocre seio, que quase me a faz odiar, me fá-la qual, Que merda é essa, O quê, Que merda de vinho, É? eu gostei, Eu achei uma merda,

lembro da frase no Bertolucci, a rua invadiu o quarto, a medida, o corte de invasão de cada coisa sobre outra coisa, o primordial e o derradeiro, o esperma e o verme, Falta-me fibra, falta-me finar o fio da meada, falta-me quê

subterrâneo crânio
brame e brada
acima a tez atina à lida e larga

subterrâneo crânio
plácido paira
cima cinge a meninge inflama e mata

subcutânea gruta
Imputa dor
Ao fino linho filho brio

subcutânea gruta
Em bruta dor
E dor e dor e dor.

A conversa totalmente ela própria a conversa mesma com um amigo, cervejas e risos tudo sob controle nada prestes a desabar, uns mendigos caídos na Lapa autodevassados e os caras que vendem amendoim, o sorriso e um espasmo anestésico, que me reserva em termos de sensação?, a assombrosa expectativa de possivelmente não sobreviver e tornar-me zumbi, onde estive todos esses dias?, já sei que já estou quase aqui, mas a brisa, diz Siba, por ser carinhosa é quem mais tem castigado, cada vez um afago e eu mais perto da grande humilhação,

como assim?,

e a galera morrendo pelas ruas e cantos, se esfregando e arrastando os pés quebrados, as crostas sujas de suor seco sexo em toda parte, as secções no cérebro, nos ombros e abdômen, nos genitais, essas coisas, cada vez um afago e eu mais perto da eterna humilhação, 

sábado, 13 de julho de 2013

Trauer

"Se algum dia você precisar da minha vida, venha e tome-a" Trigórin, citado a ele próprio pela Nina, escritos, todos, pelo Tchekhov, na Gaivota.

Quero morrer como um baseado. Burning out & fading away. Ser e não ser. Morrendo dançando, exaurindo, a carne sumindo dos ossos, empalidecendo, aqueles socos do som que agridem as caixas e um baixo que me trema os órgãos. As veias assomando à superfície, o sangue sedimentando nos fluxos lentos do leito. Os ossos desmoronando, os tendões rasgados. Tudo isso com a vida empesteada pelo corpo, até o último silvo da bomba do coração. Meu cérebro terá já há muito ido embora, - as sinapses nervosas foram bloqueadas e infiltradas e atrofiadas de modo que o cérebro não pudesse mais emitir ordens. Estava preso dentro do crânio, completamente lacrado. Por algum tempo ainda era possível enxergar por trás dos olhos o sofrimento silencioso e impotente do cérebro, até o dia em que ele finalmente acabou morrendo, porque os olhos se apagaram e não demonstravam mais emoções que o olho de um caranguejo na extremidade de um pedúnculo [Burroughs] - a decisão inicial empreendida pela via do cérebro, um suicídio consentido, autoeutanásico, é disso que sempre se tratou. Qual era o momento que eu esperava. Qual era o momento, a vida é simplesmente o caminho de achar o lugar em que se morrerá. É aqui. Chega. Um abraço. Todas as vezes que não cheguei às vias de fato na empresa contra mim era consequência disso: julgava ser aqui, me parece ainda que é, mas sinto que não, devo ainda me arrastar por algum tempo. Que pensam os que vão ao termo? Isso é quase uma paráfrase do Drummond, viver pra mim é vontade de morrer. Meus paralíticos sonhos desgosto de viver. Viver pra mim é planejar a morte, escolher o que queremos que nos seja subtraído, e do que queremos ser subtraídos, amputados, isto é, escolhendo nossos amigos, quem queremos que sinta nossa falta, não pelo puro prazer frugal de se sentir sentido, (aqueles prazeres patéticos, quem vai chorar no meu funeral, o Nelson Cavaquinho e o Guilherme de Brito falam sabiamente, eu troco seu choro por mim, sua homenagem a mim depois de morto por alguma coisa que você faça hoje por mim), mas pra ter a certeza de ter visto e sentido em muitos a vida em pessoa. E eles em nós, reciprocamente. ("Nada é recíproco", onde ouvi isso?). Não a certeza absoluta, claro - certezas sem certidões. Mas eles, por serem a vida, todo o amor se converte em seu contrário, perde-se eles, perde-se a vida. O amor converte-se não pela bobagem de que não vai durar, que por não durar deve ser chorado, Freud já disse o contrário, que por ser pouco duradouro é tão bonito, uma paisagem, uma pessoa, [A transitoriedade], já disse o Itamar Assumpção, isso não vai ficar assim, meu bem, por isso beije-me. Puta que pariu agora, pelo amor de deus. Contrário de amor aqui não ódio, mas desespero, numa potência contrária, mais que o literal suposto contrário, ódio so called, sem falar da proximidade entre ódio e amor, não se trata de amor/ódio, quem briga ama, quem ama briga, esses lugares comuns, porém acertados, mas outra coisa, escolher quem se ama é escolher quem nós queremos que tenha poder para nos matar, é dar a vida nas mãos de um outro, diluir-se em outro, faz o que quiser com isso, eu não sei direito o que fazer, você parece ter se interessado, eu nunca usei muito, não, pode ficar, é, eu só tenho essa aí, mas fala sério, tá pegando poeira lá em casa, é bom que pelo menos alguém vai usar, se ficar comigo, vai ficar parada, eu vou olhar pra ela, ela pra mim, e vai ficar nessa, fica contigo, é até bom, de repente eu fico com ciúmes e resolvo pegar de volta, quê?, é, eu tô só te emprestando, ah, você quer pra você pra sempre? Tipo dado?, ah tá, sei, bom, isso já é outra coisa, se bem que ok, tá, leva, é, leva, não tô fazendo drama não, pode levar, isso já tá há tempo demais comigo.


**
sut:
Pegamos um táxi na Urca. Encostei minha cabeça no ombro dela. Afundei no banco, depois em mim, nas dores do intestino. Ela ali comigo. Eu olhando a rua, a chuva, as pessoas atravessando a rua, as gotas distorcendo a visão pelo para brisa, eu pequeno, pequeno não sabendo as trajetórias daqueles carros, daqueles pedestres, atravessando entre os carros, dentro e fora da faixa, os olhos iluminados como bichos na estrada, o susto imóvel e confuso dos bichos, violentos, fazendo tão pouco sentido, não sabendo por onde íamos, sabendo apenas de onde saí e para onde ia, não sabendo por onde, como era quando eu era criança, eu não entendia os caminhos, me abandonei naquele momento de tal modo, de tal modo criança, que morrer poderia ser fácil, ser um passo seguinte, tão óbvio quanto ter entrado naquele carro, sem nenhum peso, sem nenhuma morbidez, mas aquele amor preocupado e firme do osso do músculo do sangue da Luísa, aquele amor era a garantia de que se eu morresse ali, estaria seguro.

luísa:
Ele me dobrou de novo,
foi o que eu pensei
quando você encostou a cabeça no meu ombro dentro do táxi.
E não foi a primeira vez. Abraçar o amor e a vida, você disse, e conseguiu,
de novo. E aí pang, domingos terríveis, você nunca vai entender,
vai?

O filme era ótimo.
Pang
de novo.
(Beauvoir me deu vocabulário
para o que eu não tinha
palavras.)

E Tim Maia cantando o que eu gostaria de dizer pra você, às vezes no silêncio da noite e todo o resto, cada palavra.

A compulsão da escrita.
Nada mais a dizer e continuar
escrevendo, lá no fundo
aquela sensação de que algo foi modificado para sempre.
Agora descobrir se para o bem ou para o mal.


**

"'All is lost. All is lost.' It's all I've ever written" Cronenberg e/ou Burroughs. Naked Lunch.

Stravinsky fagoteoboeicamente arrulha dissonante que nem tudo está perdido. Nem tudo: apenas. Stravinsky me lembra de todos os finais que vislumbrei ou sobre os quais tropecei. Todos os cortes que me vararam o ventre, como se meu ventre fosse infinito e o corte nunca concluísse. Como disse o Mutarelli, seu som soa no ritmo em que vivo, sinto e penso. Stravinsky vem me dizer que nada está por ser achado. Não que a vida esteja feita, concluída. Mas que nada está por ser achado. Não que eu seja hoje tudo quanto possa, o máximo, do que algum dia poderia ser. Mas que nada está por ser achado. Não que eu ainda não vá viver longos anos, (Paciente da Kehl: "Sei que daqui a um ano vou me sentir melhor. Um ano passa rápido. O que demora a passar é um minuto"), felizes e miseráveis. Mas que nada está por ser achado. Não que hoje eu não ame e odeie e desespere e não vá mais amar e odiar e desesperar. Mas que nada está por ser achado. Não que eu não possa rir do que é engraçado e chorar do que é terrível. Mas que nada está por ser achado. Não que qualquer coisa não. Mas que nada está por ser achado. Não que tudo esteja perdido. Mas que tudo está perdido. Quer dizer, que nada está por ser achado. Nada. Não que mas.

Nada está por ser achado. Não que eu não vá procurar oquequerque, não que eu não vá achar oquequerque, não que oquequerque não vá me mudar, não que eu não vá mudar o quequerque, não que eu morrendo, transformando-me, não deixarei sempre de ser o que era pra ser outra coisa. Mas que nada está por ser achado. Não que eu não vá descobrir outras coisas, outros rostos, outras maneiras de sofrer, de gozar, não que mas, de pensar, de foder, de beber, de comer, não que eu não vá descobrir bares recônditos e charmosos em ladeiras do Catete, experiência de suma tranquilidade e paz que quase me faz chorar pela nostalgia futura que me abate, a luz amarela sol indoor noturno wáttico halando pelo teto e paredes e os demais presentes, as suas conversas que, graças aos deuses, não ouço, senão belos ruídos, alguns homens bonitos, algumas mulheres bonitas, outros não, outras não, uma cerveja impossível no copo em minhas mãos, e uma mulher, minha companhia, ela disse alguma coisa, me fez rir, o riso dependurou-se um momento mais do que eu planejava pra ele, o tempo de me fazer pensar, o tempo de se tornar outra coisa, perdi o controle, e talvez seja ótimo, ou talvez apenas seu rosto se apague, toda a luz do bar em seu rosto desvaneça, esse rosto liso e negro, sem olhos, boca, nada, é esse vazio (o resto não, o corpo não, um belo vestido e decote, pele branca, etc.) que logo depois se alumia, foram uns dois três segundos escuros, e vejo sua expressão, a pele do rosto esticando e contraindo, os dentes, a cor dos olhos em trânsito, ela ri e pergunta o que estou pensando.

Foi assim?

quarta-feira, 3 de julho de 2013

(pai)

Algo, mas que bobagem, aporte poético póstumo, uma vez à estante de uma Travessa lendo distraído umas coisas do e.e.cummings. Tentando demover-me da convicção de ser um idiota alienado, ensimesmado (não faz mais sentido agir contra que convencer-me do contrário? ...é disso que estou falando). Sob Otis Redding, sitting on the dock of the bay.

"Now you are here. It's 7:43. Now you are here. It's 7:44." Synecdoche, New York. Charlie Kaufman

E?u Si?m?e?herda
U?ma(mãe) horda
ho?ras (gue) (ras)às horas róseas

capaz (p)?ai
ama(n)ssar-me amor(-me)
amor-te-ser (vir)-me
ser-me
morto
morta rta tártara rta
artéria rta tétana tânata aorta rta rota
ratifica fixa
crucifixa
trúcula*
(tru) se dar
truco lento
truculência
falência múltipla
trúcula trúcula trúcula

cada fracasso no seu galho.

[* este e os três seguintes escritos pela Luísa, o terceiro eu mudei, e o quarto foi motivado pelo acréscimo dela]

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Poema de Amor VII

Na ressaca do Natimorto, do Mutarelli. Grato, Diana.

Arrumei um vício.
Isso.
Cujo viço
risca o disco
limo pétreo
contra olhar marmóreo
marulhar corpóreo
quebrando erosivo

um vício velho
egrégio e régio qual mendigo
um brejo bronco brinco e baço
em que faço-me umbigo
novo umbigo digo
novo corpo visgo biso
frouxo coxo e tosco riso
nenhum risco
nem
um
risco

enfeixo um facho de pelos à boca
órgãos à boca
bocas à boca
tabaco pouco à boca
fumaça crassa baça
enreda-me rota
alterada
escrota
telepática
dessemelhante ao cerne
ao germe
da moção prima
ora
moção sem mocinhas

fumar um maço de moças virilhazinhas

Inferno

"EU QUERO O INFERNO."

Agora é que são elas, Paulo Leminski

Inventário de perfumes
o armário do banheiro
bem como o cheiro acusticamente tratado
o vapor no espelho
o cheiro no espelho
o perfume condensado no banheiro
o perfume barato
o desodorante comum
o cabelo ainda molhado
ou penteado de gel
cabelo seboso contra o vidro contra o encosto
o seda doce e vulgar da mulher trote
frugal phony fêmea
pseudópodes eternamente pelados
o cordão de latão
a prata do latão
preto
homem preto
o menino preto dentes alvos alva no cartaz do ponto com esta porra
[folclórica de bola hermética
patético futebol demagógico
domingo às madrugadas
Central Rodoviária
Inferno maleita odor doce nauseabundo
e a menina tipo sexta à noite
tipo em trânsito
tipo madrugadas brisas
tipo a bunda emergente e doidaça gradual demonstrada debaixo da
[saia curta
as coxas no tronco e o tronco na testa
atrás de cerveja
tipo mais cerveja
tipo foder
tipo foder o inferno
do avesso o inferno
ternamente o inferno.

Idiota

embora escrito antes de assisti-lo, na ressaca de A Caça, do Thomas Vinterberg.

Isso que ela diz
Isso provavelmente é mentira.
Não mentira arquitetada, mas um engano.

O cara provavelmente é um idiota.
Um idiota sortudo pra caralho que não soube aproveitar a sorte.
Ou que soube até demais, um idiota muito inteligente,
o pior tipo de idiota.

O idiota perigoso.
O idiota que reúne gente a mancheia ao redor,
ou o idiota que sabe falar,
no sentido de que é ligeiramente bem articulado,
mas é um lisonjeador,
um pela saco de marca maior,
um merda, mas um merda sagaz.
Um merda que incuba e inocula fatos
como fetos in vitro
plenos de medo e merda e morte
e assassinato

Um merda assassinariamente inteligente.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Basbaque V

A partir de para Luísa e Laura

"Lá vai a Terra, meus filhos
levando seus assassinos"
A Terra, meus filhos, Tom Zé

A Laura falando de Viewpoints, a voz e ela são ameaçadoras.
Nela se concentra parte do núcleo da Terra.
Força gravitacional, campos magnéticos, temperaturas altíssimas e
[mortais.
Não somos nada.
Tomara que fiquemos vivos, as ideias e éticas,
e nossos yogas nos salvem saudação ao sol,
comunique-lhe o astro nossa presteza e prontidão com os ciclos
[terrestres,
e a Terra não se lamente amarga a Saturno como transcreveu Tom
[Zé,
(não tanto tudo
que há, namorada, de fácil um dissabor ainda dizer
seus seios
a seus anéis)
os sussurros codificados propagados no vácuo
nem nada disso.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Basbaque IV

A dura arquitetura dos prédios das ruas do Rio são rostos enrugados
[e virados de ontem,
também bêbados, os motivos são distintos e vários. 

Todos estão no mesmo barco. 
Curtindo todos o mesmo barato.

Flácidos e plácidos, flancos digeridos pela erosão como as
[montanhas, as rochas. 
Voçorocas esfarelantes em pedras portuguesas.

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Basbaque III

Os adolescentes azuis do Ph
seus rostos tortos de formação em andamento e masturbações em
[flor,
o odor conveniente se deles se do entorno,
o papel higiênico segundos antes de consumado seu fim,
ou o cu deixando de estar imundo de merda. 

Neste conúbio cotidiano
vejo seu rosto assomando, espirrando, escarrando, tossindo, rindo, guturando.

Esse bói vai pra casa ainda
bater seu crânio em química orgânica e ver tv e pensar nos peitos daquelas nas quais já despontaram espocaram despencaram do tórax.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Poema de Amor VI

"Eu preciso mandar notícia
Pro coração do meu amor me cunzinhar
Pro coração do meu amor me refazer
Me sonhar
Me ninar
Me comer
Me cunzinhar como um peru bem gordo
Me cunzinhar que nem anum-tesoura
Um bezerro santo
Uma nota triste.
Me cunzinhar como um canário morto (...)"
Carta, Tom Zé

A lâmina fria de amor interrompido me avermelha as costas
com seus tapas termicamente complexos
em manhãs de zumbidos agudos e eternos. 

Zumbidos de geradores elétricos,
os prédios que pingam suas umidades ao chão,
e o corpo em que me enxerta meu corpo -

já sempre ouço e devo ouvir os meus ruídos,
minhas digestões e perdas de frequências,
meus risos e vozes, 
devo ouvir ainda e ouço as desse corpo espaço-temporal cotidiano que me engoliu. 

Amor.
Tão concreto quanto os socos que levo,
um corte no corpo que a ele sirva de entrada.

Lento e implacável.
Como eterna infecção.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Basbaque II

pá, peito ou acém
sempre um no caminho de alguém.

domingo, 21 de abril de 2013

Basbaque I

A imponência de livros empoleirados
como pássaros empalhados
empoeirados.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Meninas

As vezes sem moção
Moções e mocinhas
As vezes sem mocinhas, foram vezes solitárias
infinito vezes as vezes solitárias. 

As crias das rinhas entre meninas, 
crias frias finas, 
narizes finos, seios finos, cinturas finas, olhos finos, quadris finos, 
ferina farta face fina. 

As crias das rinhas, rinhas minhas, meninas minhas, 
impossíveis vidas, 
vivas vertidos às impossíveis vidas vivas, 
as vezes solitárias vidas rinhas, ninharias mínimas minhas, 

meninas impossíveis solitárias, rinhas impossíveis solitárias entre mim e meninas finas. 

Sempre sem moção, 
moções e mocinhas, 
sem vinhas e vinhos, sem linhas e linhos. 

As vezes solitárias, tantas quantas todas apenas, 
moções solitárias meninas solitárias finas minhas solitárias.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Cabeça

Às vezes ouvia um estrondo na lataria do ônibus. Pensava que era alguém socando ou estapeando pra que o motorista parasse, apesar dos intervalos longos. Mas o cargo reincidia sem se apresentar o encarregado, e, ninguém entrava. Não se devia tratar disso portanto. O motorista checou pelo retrovisor, de pronto se assustou um pouco, mas continuou, cada vez mais rápido. Cada vez porque ainda parava nos pontos, o que descompensava o investimento de rapidez. Até que numa vez, depois de breve exame do retrovisor, parou o carro saltou do volante, voltou porque se esquecera de abrir a porta, abriu e saiu correndo para a parte de trás. Todos se ergueram parcialmente dos lugares, ao modo de pombos, esticando os pescoços, pelas janelas ou por cima dos colegas de banco. Os olhinhos vermelhos e ligeiros. O motorista ia ao socorro de um homem com o crânio partido. Aparentemente, ele vinha batendo com toda a força a cabeça na parte lateral e traseira do ônibus. Agora não se aguentava em pé, estatelado no chão, ao modo do pescoço que não aguentava a cabeça, quando o socorredor tentava erguer seu tronco. Estava todo quebrado, e o sangue. Rolavam os comentários idosos feitos inclusive por velhos, meu deus, jesus cristo, filho  da puta sem juízo, morreu!, viu, tudo é tão perigoso, só pode ser maluco, só dá maluco. E o sangue manchando o asfalto, secava nesta merda de dia quente da porra. Estalava no asfalto. E quando é que vinha o motorista, compadeço tudo muito bem, mas eu ainda conservo minha cabeça e lamento. Ficar aqui suando, pretender entrar no coro caro aos fatalistas, de gente é muito doida, caralho não há nada que fazer ou esperar de ninguém. Soltei um puta que pariu, o sujeito do meu lado, pois é, e eu, não você não entendeu. Aí me olhou como se visse um ser inteiramente estranho, não poderíamos ser da mesma espécie, sem chance. Ergueu-se pra ver melhor o infeliz lá embaixo. Aquele fedor do ônibus como não bastasse. Sem ar-condicionado, talvez com ele piorasse o fedor, mas pelo menos fedia-se sem calor. Eu suando, limpei meu rosto com a camisa, e fiquei olhando pra minha barriga. Peguei uma folha de jornal, era o Destak, que circulava pelo chão e enxuguei meu tronco. Constatei um limite grave transposto. Chamem uma ambulância, não adianta o cara achar que resolve sozinho, o cara já deve estar morto. Só deve ter parado porque morreu e não conseguia mais bater a cabeça. Desci a camisa, e ventilei a barriga e as costas, dando uns puxõezinhos na malha. Caralho. Levantei pra olhar. Abertaça, fala sério, esse cara tá morto. Pra lá de morto. Desci do ônibus e fui andando pro outro ponto entre o Parque Lage e o Clube Militar. Rsrs.

**

Almoçava minhas preocupações se voltaram para Lana. Era Laís, determinou que a chamássemos assim. Ela é dessas que escolhe o nome que lhe chamarão, não lhe dão nome. Acho interessante, mas não se trata disso. Ruminava sua imagem, que era bonita, todo o corpo. Não sei o quanto se interessava por mim. Julguei que talvez fosse suficiente para ligar propondo uma foda. Entre ela e eu, isto é. Ela não se procura impressionar com as coisas. Talvez ficasse desconcertada. Por telefone dava-lhe uma vantagem, de não poder ver seu rosto na hora. Liguei, tinha seu telefone, não me lembro quando peguei, se ela me deu, ou procurei tê-lo, fato é que tinha e liguei. Ela atendeu eu disse oi, tudo bom. Claro ela não sabia quem falava, falei sou eu e tal. Quer dizer, disse meu nome. Enfim. Você topa transar? O quê? Transar, você topa. Ah tá, você não tem namorada? Tenho. E então? E então o quê? E ela? Ela, o quê, sei lá, não, é só comigo, você topa? Não e ela é ok com isso? Não sei. Não acha melhor perguntar? Não, você topa? Não quero problema com ninguém. Você vai contar? Contar, hã, não. Nem eu, então vamo nessa. Mas cara, você nem é irresistível a ponto de eu passar por essa dor de cabeça. Ah fala sério. Fala sério é o caralho, não fode, eu até topava, entendeu, não tô fazendo nada, mas porra, não tô afim de dor de cabeça. Beleza eu falo com ela, se ela for tudo bem, topa? Beleza. Então beleza. Não liguei pra namorada. Foda-se. Disse que tudo ok, ela se animou, veio pra minha casa. Moro com dois caras. Fede. No meu quarto tem um fedor azedo suave, cuja origem desconheço. Transamos. Foi bom como normalmente é uma transa, nada de excepcional. Aliás, não sei se saberia reconhecer uma transa excepcional se participasse de uma. Ela parece ter se sentido de maneira parecida. Pelo menos no que concerne à primeira parte. Nada de excepcional. Acendeu um cigarro. Não sabia que você fumava. Só quando eu transo. Ah, então você não fuma fuma. Fumo. Entendi. Isso foi engraçado, aí fiz outra proposta. Escuta, você me faz um favorzão? Qual? É uma parada meio suja. Tipo o que?, se é de cozinhar, não sou de cozinhar, ou é metafisicamente má? Não, literalmente suja, de sangue. Hum. É o seguinte: eu quero bater minha cabeça na parede até morrer. Hum, tá. Sacou? Saquei, entro nisso onde, pra te enterrar? Se quiser, mas se quiser me deixar aqui tranquilo também. Mas ham, e aí? É porque eu não acredito que eu vou conseguir me matar assim, só conseguir foder minha cabeça e desmaiar. Tá. Aí queria que você pegasse sei lá, hã, pode ser um martelo, tem um maluco que mora aqui que tem um martelo, aí queria que você pegasse o martelo e me matasse quando eu cansar, pode ser? Ela pensou um pouco, não se desconcertou, acho que deve ter achado que eu tava tirando onda. Talvez eu estivesse, mas ela pagou pra ver aí fodeu. Ok, beleza, cadê o martelo? Catei no outro quarto. Dei pra ela e comecei. Claro que doeu pra caralho. Comecei a ficar tonto, e comecei a sangrar e a ficar meio triste. Vi que começava um orifício na parede. E que ele ficava vermelho bem de leve do meu sangue. Aí desmaiei. Fiquei considerando se ela ia fazer aquilo. Claro que por um momento eu quis que não. Julguei que enquanto eu me batia ela pudesse estar com o martelo na mão, assustada, querendo que eu parasse, naquele papo de mulher acuada, para com isso querido, vem pra cá, vamo foder que eu te faço jantar. Caralho, será que era isso que eu queria? Que merda. Bom, fato foi que logo acordei do desmaio. Não sei que pancada foi, se a terceira ou quarta, ou qual. Provavelmente não foi a primeira, já estava bem arrebentado. Gritei de dor, pra sacanear e ver se ela continuava. Urrei na verdade, afinal doía pior que tudo. Ela não se assustou. Quer dizer, teve um sobressalto no corpo, os dedos crisparam em volta do martelo suado sujo de sangue cabelos e pedaços de coisas, arreganhou os dentes, e lágrimas, algumas de cada olho despencaram, solícitas. Não chorava, nem o rosto avermelhava, aquelas verteram de outro modo. Parecia ódio, pena, nojo. Um inseto cujo modo de espirrar as tripas lembra o de um humano. Já não governava a mão, que desceu sobre mim e me fodeu a boca, partindo-me os dentes e as gengivas. Subia de novo descia. Afundou-me um olho depois. Experiência ímpar, apesar de aconselhar a ninguém. Ela estava me matando, sem vacilo. Que amor me obedecia.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Buraco

levemente traduzido de e ocasionado por "it's alright ma (i'm only bleeding)" do Bob Dylan e "head like a hole" do Nine Inch Nails

Cabeça qual ralo
imolada logo
em pelo
pelo dito fato
Corpo qual culo 
em cujo colo
a si próprio
afunda fundo
órgãos somados 
são ser são malsão 
mal são ser sem quem acuda. 

Puta merda mãe

curto a drupa treva mãe
não dela o sumo chupo 
tudo bom de boa bem de tudo certo mãe 

Só tem que durmo quando ergo a vista a ler a letra. 
Aí parece não vervejo quando a coisa fica preta. 

Nem a nega preta.
Nem a teta greta.