sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

12/02, um domingo. ontem: karina buhr escreveu "cadáver", pj harvey escreveu "the words that maketh murder", mount eerie escreveu "real death", nneka escreveu "death". Contra o dia #10

NÃO.
Não admito seguir essa merda. Que merda? Não consigo, consigo, o caso é que consigo, a faculdade de conseguir ser essa merda. A grande merda. De ser a grande merda de achar que tudo é uma merda. É bem mais que isso. É bem mais que isso. É porque o poço não tem fundo. Está em Lovecraft, e o poço não tem fundo. Isso é demais.  É o demais, o demais importante.  "The thing from another world". Enquanto? Enquanto vamos, em silêncio, "silent sorrow in empty boats", o silêncio de que, o silêncio do foda-se, não me diz respeito. Não me diz mesmo, não me diz ao ponto de eu não precisar dizer sequer que não me diz respeito. É esse o ponto a que chega a indiferença, a indiferença à própria indiferença. Eu não tenho o direito de me ignorar. É melhor morrer de verdade do que viver sem saber que se morreu, jazendo pela cidade, "zumbi sem sepultura". Vale antes a agressão, um soco, um cuspe, qualquer coisa, pra contrariar a hipótese, muito forte a essa altura, tão forte que parece que viver é que é uma hipótese ("and when you want to live/ how do you start?/ where do you go?/who do you need to know?"), de que VOCÊ ESTÁ MORTO. VOCÊ ESTÁ MORTA. VOCÊ MORREU E SAIU POR AÍ ESPALHANDO A MORTE, COMO UM VÍRUS. E NÃO DÁ A CHANCE DE MORRER DE VERDADE A NINGUÉM, QUER QUE TODOS MORRAM ANTES DA HORA E DIGAM E REPITAM QUE É A GRANDE COISA. QUE OS GRANDES SEMPRE FIZERAM ISSO. MAS QUEM CHEGA A SER GRANDE EM GERAL ENLOUQUECE PORQUE NÃO QUER MORRER ANTES DA HORA NEM QUER MATAR QUEM AMA. VOCÊ MORREU, TE MATARAM, E EM VEZ DE SE RESSUSCITAR, SE DESENCANTAR, VOCÊ ACHOU MAIS ESPERTO SAIR POR AÍ FALANDO QUE O GRANDE LANCE É QUERER TUDO NO FORMATO CADÁVER. VOCÊ É UM MONTE DE MERDA E TU SE RECUSA A MORRER COMO OS VIVOS DE VERDADE MORREM PORQUE VOCÊ CORRE O RISCO DE GERAR ALGUMA COISA DE VERDADE COM O ADUBO QUE A TUA CARCAÇA PRECOCE VAI VIRAR. "SOMEONE’S GOTTA HELP ME DIG", se for o caso, e, paranoicamente, parece que é. Não faço a menor questão. Faço questão do contrário, de estar errado, de ver que circula sangue, de ver que a morte te toca, te assusta e não te consola.