sábado, 5 de novembro de 2016

03/10/16, freixo segundo turno, doria com 53% em SP, Aldo Fornazieri e os escombros do PT. Contra o Dia #5

Insuportável o julgamento alheio conduzindo meus atos. Isto é ser possuído, todos somos. “No one can juuudge/ they don’t they don’t know/ they don’t knooow”. Bom é ruim. How fortunate the man with none.

São duas coisas. “Uma definição”do Bukowski e o poema do Brecht.

Amor é mau. O mau que é o bom do ser. O ser que não se contém. Por aí a graça do dia de maldade. Terminologia: digo ser com Deligny que não é bem que corresponda ao devir de Deleuze. Isso é fácil demais. O bom do ser é justamente o um que se diz do múltiplo. O perfeito só é perfeito se também tem falhas. Por isso que posso dizer que o amor é mau e que o mau é bom. Não deixo a morte se espraiar em todo ato e dizê-lo necessariamente útil ou inútil. Vá se foder.

How fortunate the man with none. Verdade que honestidade, coragem, sabedoria são coisas bacanas e medo de Deus, se desponta como virtuoso, o componente medo faz recuar os menos crentes enquanto que as outras qualidades não fazem o mesmo. Mas quero recuar de todos. Não ser sábio, não ser honesto, não ser corajoso: não temer Deus. Os dois pontos são ousados. Ser torpe.  “Querem nos obrigar a governar, não vamos cair nessa provocação”. Deserção (Blixa Bargeld [“versus vanguarda”], Viveiros de Castro, Comitê Invisível). O luto de Barthes: é corajoso não ser corajoso. As frases são perigosas, todas, se não são consistentes. A imensa dor que te chama a suportá-la, coragem, e em meio a isso, a muitos meses de luto, sai essa: é corajoso não ser corajoso. Qual a forma da coragem? Ela não te pertence, senhor generalizador sem imaginação: vá se foder. A salvação pelo risco diz o moço que a Lispector cita: o risco também é moral: como ela diz – o mau gosto está perto da verdade. Verdade que entendo claro como tudo: o real é finitude. Se a finitude não está em nossos cálculos, diz Freud, somos hipócritas que vivemos acima de nossos meios: os obrigados culturalmente – a égide das mídias de massa: a classe média se indigna e acha que é absurdo, o que se lhe é mostrado assim. (Mas a camarilha dos 6 é um absurdo que se instalou no Executivo. A saída do Jucá e do Cunha não são animadoras. A história reiterada da indignação seletiva). A indignação é o motor do troço estéril, e o constrangimento – insuportável se ver burro, manipulado, por isso providencie logo para si aqueles que dizem que não fazem isso com você (a propósito: “elx é diferente dxs outrxs”. A glória seria que não fosse, que fosse tão ruim quanto todo mundo. Lembrando que não é todo mundo que devém todo mundo) – o constrangimento (a finitude) é usado equivocadamente. Somos fáceis, muito fáceis. “Amor é um cavalo com a perna/ quebrada/ tentando se levantar/enquanto 45.000/observam”.

O constrangimento é a salvação, como o risco. Ouço dizer que optar entre Crivella ou Freixo é optar entre duas seitas. Meus sentimentos morais se coçam. Há uma arte de suportar isso, que não é a de conservar a insatisfação como se você estivesse com a razão e o outro simplesmente não, mas de reparar no completo ridículo quase gozoso dessa coexistência tão improvável quanto real. É preciso sair dessa alternativa. O improvável é do âmbito da vaidade: é mais autorreferente que estatístico. “Amor é o que você acha que a outra pessoa destruiu”.

Arte não, portanto, no sentido foda-se de usar a palavra arte pra dizer uma merda qualquer mas captando justamente um movimento que se pode dizer artístico: arrastar a moralidade, a sexualidade, a mortalidade (“you’re yet to discover/ discover the difference/ the difference between/ moral and mortal”), a natalidade, a sagacidade, a honestidade todas as idades a um terreno desconhecido em que expressividades estranhas ganham um corpo (matéria, material) somente vislumbrado ou nem isso no cotidiano. Mas lá lá lá. Aqui aqui aqui.

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

me deu tudo
menos nada

parece que não sabe

pensava que era clara
aquela parada
de perfeito que é perfeito
ter que ter falha

segunda-feira, 4 de julho de 2016

na morada
nada mora
namorada
morosa
nada amorosa

haja nela vento
vidro já ruído
nela o rumor da ruína
morosa
nada lá possa
ruidosa
ruir sem rir ruindo

sexta-feira, 17 de junho de 2016

porte
bem como se ensina
afina a vista, aviva
mínima, péssima.

menina tétrica
morte
bem como se ensina
a fina vida, firme.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

daí que não percevia
ainda o percevejo

quinta-feira, 7 de abril de 2016

que não está
senão longe
não estando
comove-se
pouco ou tanto
em desencontro
que não vem
e você sabe
e espera
é bom
ainda que

sábado, 27 de fevereiro de 2016

acabou



tu que me toma
por meu cadáver
que tu arrasta
com o gosto
de quem degusta
ainda
a carne presa
entre dentes:
aqui está ele puxando teu pé.

isso que tu chama fato
é o álibi da tua loucura

esse não
que tu chama rosto
é o esplendor hemorrágico
dum sim amputado

mas a mão que puxa teu pé
sabe que o mal é quando mau
que o teu refrão de fatos
ferve de vergonha
louco engasgado
preso à verdade
de sua veraz carne
não mais pulsando.

então tu trate de tentar
me enganar
melhor
diga "essa chuva e eu sem guarda chuva"
e talvez tu então me tenha te olhando contente.