Insuportável
o julgamento alheio conduzindo meus atos. Isto é ser possuído, todos somos. “No one can juuudge/ they don’t they
don’t know/ they don’t knooow”. Bom é ruim. How fortunate the man with none.
São
duas coisas. “Uma definição”do Bukowski e o poema do Brecht.
Amor
é mau. O mau que é o bom do ser. O ser que não se contém. Por aí a graça do dia
de maldade. Terminologia: digo ser com Deligny que não é bem que corresponda ao
devir de Deleuze. Isso é fácil demais. O bom do ser é justamente o um que se
diz do múltiplo. O perfeito só é perfeito se também tem falhas. Por isso que
posso dizer que o amor é mau e que o mau é bom. Não deixo a morte se espraiar
em todo ato e dizê-lo necessariamente útil ou inútil. Vá se foder.
How fortunate the man with none. Verdade que
honestidade, coragem, sabedoria são coisas bacanas e medo de Deus, se desponta
como virtuoso, o componente medo faz recuar os menos crentes enquanto que as
outras qualidades não fazem o mesmo. Mas quero recuar de todos. Não ser sábio,
não ser honesto, não ser corajoso: não temer Deus. Os dois pontos são ousados.
Ser torpe. “Querem nos obrigar a
governar, não vamos cair nessa provocação”. Deserção (Blixa Bargeld [“versus vanguarda”], Viveiros de Castro,
Comitê Invisível). O luto de Barthes: é corajoso não ser corajoso. As frases
são perigosas, todas, se não são consistentes. A imensa dor que te chama a
suportá-la, coragem, e em meio a isso, a muitos meses de luto, sai essa: é
corajoso não ser corajoso. Qual a forma da coragem? Ela não te pertence, senhor
generalizador sem imaginação: vá se foder. A salvação pelo risco diz o moço que
a Lispector cita: o risco também é moral: como ela diz – o mau gosto está perto
da verdade. Verdade que entendo claro como tudo: o real é finitude. Se a
finitude não está em nossos cálculos, diz Freud, somos hipócritas que vivemos
acima de nossos meios: os obrigados culturalmente – a égide das mídias de
massa: a classe média se indigna e acha que é absurdo, o que se lhe é mostrado
assim. (Mas a camarilha dos 6 é um absurdo que se instalou no Executivo. A
saída do Jucá e do Cunha não são animadoras. A história reiterada da indignação
seletiva). A indignação é o motor do troço estéril, e o constrangimento –
insuportável se ver burro, manipulado, por isso providencie logo para si aqueles
que dizem que não fazem isso com você (a propósito: “elx é diferente dxs
outrxs”. A glória seria que não fosse, que fosse tão ruim quanto todo mundo.
Lembrando que não é todo mundo que devém todo mundo) – o constrangimento (a
finitude) é usado equivocadamente. Somos fáceis, muito fáceis. “Amor é um
cavalo com a perna/ quebrada/ tentando se levantar/enquanto 45.000/observam”.
O
constrangimento é a salvação, como o risco. Ouço dizer que optar entre Crivella
ou Freixo é optar entre duas seitas. Meus sentimentos morais se coçam. Há uma
arte de suportar isso, que não é a de conservar a insatisfação como se você
estivesse com a razão e o outro simplesmente não, mas de reparar no completo
ridículo quase gozoso dessa coexistência tão improvável quanto real. É preciso
sair dessa alternativa. O improvável é do âmbito da vaidade: é mais
autorreferente que estatístico. “Amor é o que você acha que a outra pessoa
destruiu”.
Arte
não, portanto, no sentido foda-se de usar a palavra arte pra dizer uma merda qualquer
mas captando justamente um movimento que se pode dizer artístico: arrastar a
moralidade, a sexualidade, a mortalidade (“you’re yet to discover/ discover the
difference/ the difference between/ moral and mortal”), a natalidade, a
sagacidade, a honestidade todas as idades a um terreno desconhecido em que
expressividades estranhas ganham um corpo (matéria, material) somente
vislumbrado ou nem isso no cotidiano. Mas lá lá lá. Aqui aqui aqui.
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