quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Incursão pelos dias

incoerentemente
tente
sem titubeabá
ter
abater
ia
sido
ido
abatido
lindo
dormitá
deriva
derivar
se vá
volte
volt
soltitubeabá
ter
sol e tu
vem abater
some, tu
vem me bater
verme da terra
terna, terno
paletó.

Postiço

quero também
de ti
um amor postiço

pois, tu
postula
isto

amar quando
quem?

como?
por quê?

saiba pouco
ou nada
dá-me douto
nada.

pense é como
se atendesse
um pedido
dum menino desse

alcance
aquilo
ali
àqui

dá-me quando
tome quando

donde postiço.
tire inteiriço
e disso
como aprouver
deixe como lhe der.

a mim não importa
jogue porta
afora.
se é tu, ora,
pouca
dá-me outra
safa-me de tu.


basta
eu.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Espanto

Di repente,
vi que
muito pouco importava
vi que o mundo
era assim:
Repuxadas no estômago,
Calafrios na base da espinha,
Contrações do ânus e vertigem.

Nada é dito.

Sons de caminhão, na rua, embaixo
pedestre, aí.
Ruídos indefiníveis, mas
nitidamente trabalho.

O que dá
a porrada
O que recebe
a porrada.
O martelo e o prego.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Magrela

Magrela.
Era uma de pernas magras,
Os ombros ossos
e apesar
sobrava sobre a borda do short
a short amount of pele.

Não soavam os seios
tampouco ecoavam.
Era uma pressa de pernas magras,
levavam-na pelo Catete
e agora à Glória.

Quis saber quem mora contigo.
De qual praga
tu falas.
As baratas,
tuas manas, mãe.
A tia que tanto fala, e alto,
irrita.
(Seu nome é Rita).

Quem sabe não.
Morasses só e última
Como aquela minha que, sei, tu mimas

Fosse, o escuro, marrom
tosco de madeira tosca
A incandescência da lâmpada,
a pouca potência,
o resguardo do corpo ante a lembrança obesa;
impossível peso.
Pois caminha.

Ou fosse toda mentira
Como toda menina.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Morar

as casas ao longo
esses condomínios cinza
os blocos, essa
coisa matemática
o intervalo
o vão entre as...

Os automóveis:
abandonados.

dirigir um carro
é perdição, não
se volta mais pra casa, não
se dá corda no filho, na mulher
no marido.

é macilento
quem mora
nesse bafio rebento
essa escura escada jamais descida
quiçá subida, que
da estrada à ladeira leva
O pé que pisa
é invisível
é sem peso
porta a fora, a noite, só, há
soar um poste, laranja luz
nada cerca, nada sobre

as árvores, atentas.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Remendos

Nem houve menção de mundo
Percebe ou então não
Melhor o mundo sem notícias
Fingindo ouvir paisagem gasta
Mata és vaidosamente superestimada
e um eco não tem por que levantar a voz
Meu amor felicidade
Quando coisa é muita coisa
coração dos corações de repente tão sós
A canção no tambor é tempo
Dê cá um beijo e sorria pra outro
Só há poesia enquanto houver a noite inteira
De repentemente
Os seios pulam no vestido dementes de alegria
E o amor revivido nos braços dos homens
O vento sopra do outro lado do salão.
A onda bate e há música.
E ouvir os colares e pulseiras.
Fingindo ouvir um rosto.
Meu universo de vergonha.
A paisagem morna
Coração dos corações sorri
Ali mesmo não existe felicidade
Eles sorriem de um som feliz
Atravessando a mulata
As luzes apagam e saem do outro lado
Rasgo o vestido deserto
O mundo não ouviu quando falaram:
"Estás farto, Fulano"
dos que sabem que você é feia
Nada é só um ressentimento
O tambor no chão a abandoná-lo
De repente não existe felicidade
Linda música na rua
Abandonar tudo dos que sabem
E ouvir o senhor? Não senhor
A grama e as árvores em minha testa
Eu ao invés
E não há mais palavras
Sem se darem conta enquanto é tempo
No chão felicidade
Se achar bonita pra mim
Ela dança o desapego desatinada
Há pessoas dançando
minhas palavras falam só pra mim absolutamente
É sol antes de pensar em abandoná-lo
Degole o nome dele
Um universo revivido não existe
Abandonar tudo em absolutamente nada
Ali há só desapego
E ouvir escuro
A paisagem sobre o rosto
Não há controle ao redor
A banda é bela em abandoná-lo
Ela dança coisas
Ali mesmo felicidade
As luzes apagam as árvores
Ali há só ela por que terminar frases
Melhor desapego
Meu amor tudo enquanto é tempo
O mar muda música
E a canção sem cabeça dos homens
finge que o vento sopra

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Dois, três

o medo
da primazia
de quem
consome o assunto.

a vergonha
de phalar em púbico.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Barca

Por ora todos aguardam que passe. Algumas vezes tropeçam olhos nos meus, quando me dou conta, pisco longe. Estou mirando lá o horizonte. Mira-me de volta e pergunta-me qualquer coisa que não escuto. Escuro. Tem também a moça dos gatos. As cadeiras para os homens que não possuem uma perna, ou as duas. Essas são as cadeiras de rodas, sem motor. Com motor é libido. A outra não se conforma que eu seja bilíngüe, e que fale comigo mesmo. Quereria o quê? Que eu falasse com ela? Qual seja: “Perder tempo sozinho? Fale comigo, estranho”. Duvido, deve ser mais: morra, você é maluco, não consigo virar o rosto porque sua falta de escrúpulos me entretém, e isso é insuportável. Respondo-me, sim. Olha para mim, meu bem. Não tardará, jogarão no chão as correntes, e nós, manada, flutuaremos até Niterói. Tem as pessoas que entraram por onde sairiam as outras. As outras não compareceram, foi um esquecimento em massa. Não é tão mais indecoroso burlar os costumes, é mais simples. Nunca foi indecoroso. Seria agressivo: Pega ladrão! Os homens e as mulheres roubam meu lugar um passo antes do deles. Mas isso não importa, o que importa é importante sem que se lhe atribua importância. Aqui a máxima é o odor desprendido das axilas. Assim reconhece-se o nicho. Canta, ó nega musa, as dores de meu pai, de minha mãe, transcritas no sensório: sou fina e linda, e penetro narinas. Eu fedo porque existo, eu existo porque fedo? Feder é a maior contra conquista. Fazemos para descobrir que já estava feito. E esquecido, diria o outro. O chorume tem cheiro de laranja. Laranja podre, que seja, mas laranja. Lá, à frente, não é o ruivo feio que empunha a corrente. Hoje é o negro número 480.546 (quatrocentos e oitenta mil quinhentos e quarenta e seis) vivente no Brasil. Assim o faz, ele, majestosamente:

Ele tira um elo da corrente de um ganchinho. Ele tira outro elo da corrente de outro ganchinho. Ele larga ambos os elos. Bam! Que estrondo! Estamos livres e encaminhamo-nos para o espaço apertado. Os negros são mesmo o âmago do Brasil. Eles têm cor de terra. A terra tem a cor dos negros. A areia tem a cor dos amarelos. As fossas abissais, as rachaduras, os umbigos dos gordos, as vaginas, os cortes são os olhos do chinês, do japonês, do coreano, etc. A neve tem a cor do branco. “Porém não sei como é a neve, / Eu nunca vi a neve, / Eu não gosto da neve!”. O branco é da nuvem. A nuvem é do algodão doce. O doce é do açúcar. E o açúcar é branco, sacou?

Caminhamos. Longe vem um enigma, soando nas ondas da baía. Começa com “quem”, o resto não se ouve. Ou melhor, não o ouvi eu, outras pessoas aparentam compenetradas, acredito que possa ser na solução. Ou pretendem supor o que seja aquilo que vem depois de quem. Seria perigosa especulação? E Aristóteles falando sobre a comédia? Está claro? Meu bem se veste sempre com um laço no pescoço. Um dia perguntei-lhe o porquê daquilo. Não me respondeu, e cantou uma canção. Tempos depois, enquanto dormia, desatei o laço; sua cabeça caiu. Gritava comigo, ofendidíssima, e eu, me desculpando, explicava o incidente. Ela sentia-se exposta; eu já havia visto suas partes íntimas, mas nunca sua traquéia. E que traquéia, diga-se de passagem. Agora me declaro apaixonado e ela ressente-se. Não fala comigo. Pede-me apenas que a vire para parede, à guisa de desprezo por mim. Eu obedeço e me sinto desprezado. “Mas amo você”, digo eu. “Ama?”, diz ela. “Amo”, digo eu. E não diz mais nada. Eu me viro e vou embora.

Tem o moleque de cicatriz, feio, que quer me roubar. Eu quase o ouço dizendo “pa-ssa tu-do, po-rra”. Mas eu sou outro moleque, à parte. “Tudo” é muito metafísico para que eu possa passá-lo sem titubear. Assim, castrar as regras, nego isso. Não é possível que ele exista. Se eu existo, isto é. Não é possível que coexistamos. Não por uma questão de coerência, não por uma questão de sentido. Mas por que não é possível, simplesmente por isso, por ser uma impossibilidade. Não vai acontecer, não vai tomar lugar. Se fizer uma tentativa, aquilo se desconfigura, não possui forma, não é perceptível, é ultravioleta, não carrega coisa alguma. Eis uma alternativa plausível: ele vai se virar, tirar a roupa, o disfarce, e se revelará a mulher da minha vida. Essa é a verdade.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Útil

O corpo, ser
vê pra alguém
tá porrada.

sábado, 29 de maio de 2010

Emília

A não querida flor da família, Emília, a que chorava junto quando chovia o céu. Foi ela que descobriu que quando se encostam as costas da mão na testa, o suor é raspado pra se ressignificar em sujeira preta na mão e na testa. Mas aí é sacudir pra fora. Não se está limpa, mas aparenta-se. E é ela que descobre que nos dias frios, ela parece mais limpa por mais tempo. Ela e as amigas, os pais. As pessoas saem mais bonitas nas ruas. As ruas ficam mais agradáveis, a gente pode pôr as mãos nos bolsos sem querer parecer intertextual. É porque está frio, e os bolsos ajudam. É Emília que dorme pensando nas pessoas da escola e acaba sonhando coisas misturadas. Ela acorda confusa, e esquece que dormiu em casa. É ela que toda vez que acorda tem que ter certeza de que não está em outro lugar. Aí vê seus pais, seu cão, seu reflexo. Antes de tomarem forma, são vários borrões sem pátria, num deserto de identidades. Aí Emília se atirava nos quadris dos pais falando “Essa é a minha casa!”. Eles diziam que sim, e nós somos seus pais. E dela, a tréplica “Vocês são meus pais!”. Tudo desvendado. Foi Emília quem disse aquela célebre frase “Conhecer é repatriar o desterrado”.

Ela, de fora

Seu rosto é pequeno. Quando vi de costas, os cabelos curtos, achei que talvez me lembrasse alguém. Mas é diferente e mesmo díspar de, talvez, todos que já vi ou conheço. Tudo se amarra teso: nariz, boca, olhos, etc. É uma soma transbordante que um dia pode arrancar seu rosto do seu rosto. Por ora, controla-se numa fotografia. Daqui a alguns anos, quando virem você na rua, não saberão quem você é. Assim: você fica escrevendo poesia debaixo do sol. Se o vento leva os papéis, você tem brisa e nada na água. Se não vier, você tem poesia escrita. Você vai embora. Irá. Sem dar por si, querendo sugar vida de uma pedra, sugando a vida de uma pedra. E a sua boca desmancha e borbulha, seus olhos mergulham nas órbitas e seu nariz escorre e pinga no chão. Aprendeu a ser pedra, sendo observada fotografia.

sábado, 8 de maio de 2010

Não

não cora
menina
ficar cor de amora
é coisa de gente
que sente vergonha.

não chora
menina
que se por pra fora
é coisa de gente
que sente tristeza.

demora
não, filha
que passar da hora
é coisa de gente
que não tem parente.

aflora
não, filha
que essa de ir embora
é só uma história
da boca pra fora.

não tenho nem por que
te contar mentira
só, minha filha, não
vá levar desdita

nunca pra casa.
não.

O que me puncta

reconhecer-te-ei
pela fuça,
a nuca
ou nunca.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Poema de Amor IV

Mar é chumbo
Penetrável.

Tal e qual
Tu.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Poema de Amor III

Hoje, vi na rua
Uma barriga igual a sua
(Em verdade, na orla)
E os peitos eram iguais aos seus.

O rosto era outro, todo diferente
Que impedia engano,
e que me envergonhasse chamando seu nome,
Mas, me ocupando do que me ocupava,
Imaginei nela sua fronte.

Por onde anda você
Seu corpo exausto e hostil
atravessando o chão?

O tempo que você ria
quando eu mastigava ao sol
seu som de alecrim?

domingo, 4 de abril de 2010

Uma Aranha Metafísica

Uma aranha enormantesca
espreita-me do teto, no escuro.
Quando suas presas se separam
e principiam palavras,
em tom de inquérito,
meu susto é tal,
que morro sem ouvir a pergunta.

domingo, 28 de março de 2010

Finda

és olor

um que paralisa
és o que vem da brisa
que vem à guisa de amor.

És diáfana
Pétala.

Teu rubor insiste, como se, em riste
fosses o tombo do que pensasses.
Como se, no lombo, tu carregasses a cruz leve.

Tu és breve.

sábado, 27 de março de 2010

Poema de Amor II

de madrugada, acordo
a luz de fora embebe o quarto
meu amor está atrás da porta
um sorriso violento nos lábios
pedindo que eu faça silêncio.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Ressaca

O vento sopra
O mar muda
A onda bate

Assisto o mundo,
sem notícias.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Poema Tácito

O mundo corre monocórdio por olhos cerrados
curam a cor pouco eloquente de domingos à mingua.

E o ouvido que olvida
vive a vida numa ida
volta não há;

um passo a frente,
quiçá,
que ruma
para onde está.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Meditação Ridícula

Meu bem, pesa a solidão aqui
Também, amor, cansei de mim, meu bem, aqui
Ali, aí, acolá
Em qualquer lugar, meu bem, aqui.

O medo aqui a gente sente
O medo aí a gente ri, meu bem, aqui
Aí, aqui, sei lá
Em se rindo, já se dá, meu bem, aqui.

Quero a ríspida luz de meu bem
A que emana de mim, meu bem, aqui
Aí, ali, todo lugar

E vá!
Escrevinho pra mim
Eu, meu bem, eu, bem, aqui.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Poema de Amor I

Parece-me amor
Quando brincam com minhas orelhas
Abro os olhos
E vejo um rosto estranho.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Zutana Runea Oãso

Açúcar na cabeça
Abelhas vêm, dão-me mel
Não sou a natureza.

Espremo gente
Pra sentir o aroma
Não sou a natureza,
Nem dela dona.

Se fosse, daria outro nome
Um que não coubesse em poemas
Com dez mil sílabas e novecentos fonemas.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Punctum

existe algo primaz
por detrás da face das coisas
que, quando à tona,
denota
que existe algo
primaz
por detrás.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Frestas No Entre Portas

Existem frestas no entre portas
onde há penumbra dum lado
do outro, o mundo velado.

existem frestas no entre portas
por onde esconde o rubor amarelo
o oculto estreito e banguelo.

existem frestas no entre portas
onde assentam aranhas com pernas tortas
que acampam em sombrias botas.

existem frestas no entre portas
onde a matéria etérea e descolorida
é secreta e divertida.

existem frestas no entre portas
em que todo o riso é novo e ali;
é o segredo de como se ri.

existem frestas no entre portas
de onde fogem furtivas notas,
as que soam vidas remotas.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Timidez



Tenho dois olhos
E duas bocas.
Tenho uma orelha
Um pouco rouca.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Eu

Eu não cedo,
Eu tardo.

Rol de Cores

além
há um rol de cores
estica
a mão
e apanha uma.

parapeito
o céu frui da mão
rica
que agonia-se um tanto
da altura.

Lá embaixo está o chão.

mão dura
escuta
ausculta
o redor.

nada.

melhor
que o pássaro,
no braço, pousante.

rompante pio.

se lhe apetece,
recolha-se,
não é fio,
se aborreça, não.

além
há um rol de cores
deixa uma
e traz
a mão.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Paisagem Gasta

Um ponto branco na tela cinza

seu cabelo à beira da estrada
junto à mata

sua voz no meio da avenida

no meio de um deserto,
um eco
de um som
feliz

um eco.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Impressão Cardíaca

Minúcia, deveras,
a escolha.
Perfaz nós
infinitos.

Bom é quem não se aflige:
tudo tem mesmo um nível de erro.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Teus Dedos

Os teus dedos são segredos
que sempre se anunciam,
se é paciência ida ao degredo
jamais, pois, se leriam.