quarta-feira, 22 de maio de 2013

Poema de Amor VI

"Eu preciso mandar notícia
Pro coração do meu amor me cunzinhar
Pro coração do meu amor me refazer
Me sonhar
Me ninar
Me comer
Me cunzinhar como um peru bem gordo
Me cunzinhar que nem anum-tesoura
Um bezerro santo
Uma nota triste.
Me cunzinhar como um canário morto (...)"
Carta, Tom Zé

A lâmina fria de amor interrompido me avermelha as costas
com seus tapas termicamente complexos
em manhãs de zumbidos agudos e eternos. 

Zumbidos de geradores elétricos,
os prédios que pingam suas umidades ao chão,
e o corpo em que me enxerta meu corpo -

já sempre ouço e devo ouvir os meus ruídos,
minhas digestões e perdas de frequências,
meus risos e vozes, 
devo ouvir ainda e ouço as desse corpo espaço-temporal cotidiano que me engoliu. 

Amor.
Tão concreto quanto os socos que levo,
um corte no corpo que a ele sirva de entrada.

Lento e implacável.
Como eterna infecção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário