Os joelhos sobre as plantas rasteiras, amassando-as, uma
flor entre os dedos, amassando-a devagar. Duas gotas atingiram-na das vezes que
a premia. O rosto erguido nele os olhos sob o céu escuro nele as estrelas
imóveis senão pelas ondas que as gotas imprimiam no olho.
Somente agora dava real atenção ao roxo inchado formando-se
no cotovelo. Um corte bem superficial. Os dedos sobre o hematoma, retirou-os
rápido. Havia minúsculos grãos duros espalhados pelo cotovelo e por toda a área
inferior do antebraço.
A chuva engrossara algum momento.
À sua frente, o muro rosa. Um curto facho ocre da luminária no canteiro da qual a água tirava fumaça.
Uma gota caiu de seu queixo entre os seios pelo umbigo até a
barra da saia. A blusa encharcada. Pesou ao
tirá-la. Viu uma faixa fina vermelha com rastros fracos descendentes. Esfregou
a mão sobre ela. Cheirou. Era sangue. De novo.
Plêiade!
Voz vinda de fora. Havia atrás de si ainda toda a casa de
distância até a porta. Ante a soleira era a areia. Virou a cabeça do muro ao
corredor. Via a janela que dava pra praia. Emoldurava-se nela a cabeça dele
olhando-a. À visão dele, imaginava-se, havia suas costas nuas na penumbra ante o muro rosa e
farta fração do rosto iluminado. O rosto inteiro dele, tudo quanto aparecia mal,
era escuro. Virou-se de volta.
Tomou a flor na língua.
Mastigou-a.
Plêiade!
Não se moveu. Houve porém após um grito estranho. Não evocava
um ataque, susto, dor. Ou melhor, não apenas. Grito gritado com o pior que ela
já houvera ouvido à vida. Não era certo que ele houvesse gritado, mas de alguma
traqueia havia saído. Não queria descobrir. Agora era passar o resto do tempo ali.
Tolerar as câimbras, as escaras, logo descobriria como.
O grito se repetiu. Isso era inesperado. Era o tipo de grito
que só esperaria ouvir uma vez na vida. Sentiu os joelhos manifestarem-se numa
direção ascendente. Apoiou as palmas das mãos sobre as plantas já amassadas.
Algo escorreu por sua coxa esquerda. Ergueu a saia. Sangue. Não sabia se
menstruara ou se algum corte nos arredores. Tudo doía monoliticamente. A água
abria a pele e fazia arder.
Deu passos até o corredor. Atravessou-o. Limpou a terra dos
pés no capacho. Foi até a porta e abriu-a. Escuro. Pegou a lanterna, no móvel
ao lado do vão. Vasculhou os arredores. Nada. Dois passos avante. O raio que a
lanterna alcançava aumentou. A chuva batia forte sobre o telhado. O mar negro e
plúmbeo. Voltou-se, a lanterna iluminando o chão. Uma pegada com sangue
dirigida à casa.
Refeita do susto, tomou o pé nas mãos e equilibrou-se para
iluminá-lo. Havia restos borrados de sangue. Era seu pé, aquele. O em suas
mãos, o cuja marca estava no chão, o que entrara na casa, o que saíra da casa.
Chegou-se ao mar. As ondas quebravam, a chuva engrossava,
fosse ainda possível. Era o mesmo som, a mesma água que quebrava a seus pés, a
mesma água que encharcava seus cabelos.
Mas não era possível. Alguém mais estivera lá e gritou. Não
era ela.
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