sábado, 5 de dezembro de 2015

mais um exemplo da porosidade de certas fronteiras (cf. DFW)

era uma história que me tocou em que a mãe morria no parto e sobrava o pai chorando com a nenezinha chorando nos braços aninhada num pano rosa e abaixo o relógio casio do pai no pulso esquerdo do pai e aquilo me tocou e eu pensei algo como a criatura chega já recebendo muito e pensei outra coisa como como era lindo e triste ver os dois choros e saber que pelo menos um era duplo inomináveis alegrias e tristezas e chorei também porque parecia enorme demais mas não era por isso que eu chorava eu chorava sem porquê e era enorme demais

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

aqui nada se parece comigo
separa-se comigo
estou no paraíso
está-se no paraíso
sinistro
está-se nisto.

domingo, 25 de outubro de 2015

non dolet

isso não dói
espremida a dor da dor
exprimi toda dor em sim
isso não dói

isso não dói
espremida a dor da dor
exprimida a dor em sim
isso não dói

isso não dói
espremida a dor da dor
exprimida a dor em sim uníssono
isso não dói mais

isso não dói
espremida a dor da dor
exprimida a dor em sim uníssono
isso não dói mais do que doeria

isso não dói
espremida a dor da dor
exprimida a dor em sim uníssono
isso não dói mais do que doeria
se nada doesse isso assim

domingo, 18 de outubro de 2015

nenhuma urgência
é mais pateticamente urgente
do que a daquilo
de que
a gente se usa
pra tentar
estrangular o tédio.

Donde
às vezes
ver TV
ser caso
de morte ou vida.

solidão
é estar
sempre
atrasado?

sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Poema de Amor IX

amo as vulvas turvas
muitas vezes
vi as veias verdes
dos seus seios
quis beber o sangue
ou o leite
ou o suor
ou a saliva
que você babava
quis tudo que cê secretava
a porra dos outros caras
todas as palavras silvadas
dos lábios úmidos
dos dentes secos espantados
quis todo o silêncio
do que cê não contava
cada segredo sem palavra
todas as lágrimas choradas
orgasmadas do inferno da cara

me odiasse matasse arrebentasse sem amar
que eu não corria que eu não podia que eu não queria
te recebo te celebro te mastigo
os lábios encharcados
alma glabra
em minha boca
quis minha vida velha toda
bela pouca e boa
alma doce amarga glabra pele calma.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Toda história
Exclui
O circunstante ignorante
Ou o torna a par
De sua soberania
Ignorando
Sua história
Seu rebotalho
Seu nada
Tão nada
Quanto a soberania
Da sabedoria

Ignora
A prova de vida
O silêncio
A dúvida
A incerteza
A tristeza
A alegria
A lágrima
A euforia
A liberdade.

Não me pergunte como estou
Eu não estou
Como eu tenho andado
Eu não tenho andado
O que eu tenho feito
Eu não tenho feito

Nada se conhece
E isso não seria mau
Se tudo não parecesse tão ignorado.

sábado, 3 de outubro de 2015

medo da mariana



















Sittin' here resting my bones
and this loneliness won't leave me alone
Otis Redding

MEDO DA SOLIDÃO
NÃO SENDO MEDO DE FICAR SÓ
ESTAMOS SÓS O TEMPO TODO
MAS MEDO DE NÃO CONSEGUIR SUPORTAR FICAR SÓ
OU
SE FORMOS PELO MACALÉ
QUE HÁ SEMPRE AO MENOS VOCÊ COM VOCÊ
ENTÃO É SIM MEDO DE FICAR SÓ
PORQUE NUNCA SE ESTÁ SÓ
E SE ACONTECE QUE ME SINTA SÓ
É QUE NÃO ESTOU SACANDO
ISTO É
SENTINDO
QUE COMIGO
ESTÁ EU
TAMBÉM
QUE EU
"É VOCÊ
VOCÊ
E VOCÊ."
(o quequandocomo suscita isso?
essa suma cegueira
de tudo quanto é sentido?)

EU NÃO SOU SÓ EU
"EU É UM OUTRO"
"E OUTRO
E OUTRO
ENFIM DEZENAS
TRENS PASSANDO
VAGÕES CHEIOS DE GENTE
CENTENAS"

SE EU SOU SÓ EU
SUPLÍCIO MÁXIMO
FADO EXASPERADO
SOLIDÃO IMPOSSÍVEL
OBSCURA COMO UM FATO
VIVIDA COMO QUEM SENTE A VIDA
NUNCA AINDA AQUI.

SOLIDÃO
A
PAVÓ
ORÁ
TUDO DEMORAN
DO EM SER
TÃO RUIM
MAS ALGUMA COISA ACONTÉ
CE
NO QUANDO AGÓ
RA EM MIM
CANTAN
DO EU MAN
DO A TRISTÊ
ZA EMBÓ
ORÁ.

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

bicho
relaxa
ninguém chega
a se achar macho.

domingo, 9 de agosto de 2015

morrer como fiz agora
amor não como esta agonia retroativa
em retrospecto todo possível é impossível
queria a glória de um cu
ou o cu de uma glória

sábado, 1 de agosto de 2015

ato falho com tarso

quanto tu ficas
quanto tu voltas
quanto tu ias

quinta-feira, 30 de julho de 2015

saudade tão sinistra de você que não consigo chamar de saudade
não sou eu, não é isso, não é você

domingo, 26 de julho de 2015

mortos somos invencíveis

leminski, posfácio do mishima

em se me inuma
se me imune
em ser humano

segunda-feira, 13 de julho de 2015



ensejo suma
em sumo que
ta percevejo


domingo, 14 de junho de 2015

Martin Parr



















Vômito ou quase e frio uma boceta pequena de gosto aguado junto ao fundo da pior música rachando mal o silêncio a pior porque marcará essa sucessão de instantes sob fogo azul toda essa temperatura repugnante novamente frio como a virilha fria em mau dia azeda azul seria um fogão em que uma boca está ligada no escuro ela não é fria mas vê-la é frio enquanto estamos conversando em outro quarto sentindo a textura que a cachaça deixara em nossos dentes, línguas e ideias.

A propósito mas em outra vida, descíamos cheirosos, de banhinho tomado, deliro uma fogueira, uma menininha corre atrás de um menininho, as pilastras e paredes em que se seguram e escondem parcialmente os corpos e sorriem nunca pareceram tão sólidas, os risos desfiguram o rosto e esquentam ligeiramente o entorno. Dobro os antebraços um sobre o outro sobre a mesa os cotovelos me apoiam, um vento frio corre nada é importante e as árvores silentes e me trouxeram um vinho tão doce que é jocoso e agora eu rio como eles com dentes negros alguém desenterrará uma cachaça logo mais muito preciosa seja por sabor ou saudade alguém requenta o macarrão de hoje cedo e sinto o cheiro que me dá fome e o teco metálico de garfo em dentes. Fala-se e não ouço nada que não seja tudo simultâneo e indiscernível e lá vem a cachaça eu digo claro à mão que me aponta a cachaça ou o copo e traz o copo na outra e a cachaça em uma e eu digo claro e ela sorri e fala alguma coisa e o põe na minha frente e inclina a garrafa um seio em meu cenho me serve e descreve a cachaça e isso eu ouço distingo pedaços de palavras mas não entendo e brindamos todos e bebemos todos.

sábado, 13 de junho de 2015

Basbaque XI

por hoje chega
essa é a sentença
Chega
por hoje chega
essa é a sentença
como
Hoje
é um conceito difícil
ou
se não é difícil
não é claro
ou
se não é claro
Chega
é menos difícil

a pior coisa do mundo
é tudo que já aconteceu
e que não para
teima em não parar
é ridículo
atribuir vontade
ao que é
– que teime –
isso sou eu
e por hoje
como sabemos
Chega.

quarta-feira, 27 de maio de 2015

mer

Willy Ronnis








vejo minha
vida
zinha
me
do verbo mer
como se
do verbo ser
passar

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Taígete/Malena

anna clarén


“Opiômanos veteranos aspiram a fumaça negra no quarto dos fundos da lavanderia do China enquanto o Bebê Melancólico morre de overdose de tempo ou súbita falta de ar.”

Almoço Nu, William S. Burroughs

I. primeira conversa com Aziz

Uma travessa escura em geral vazia sobre a qual se estendia por curta distância o parapeito em que debulhava meus braços por longas noites. Era então uma luz forte e minúscula acima de minhas vistas. Era acendendo um cigarro e seu rosto assoma ocre do escuro e some. Me olha e não a vejo vendo, era somente vejo algo mais quando traga. Posição bela e folgam as tiras sobre os ombros de seja lá o que veste em lenta marcha indo ao negro interior. A outra mão esfrega o suor de entre e debaixo de seios e permanece. Negro imenso véu se lhe cinge estende sem estrelas num limite. Acima da face silenciosa somente o céu. Cada fixidez de contorno assombrada por vazios mútuos.

Nas costas agora um leve frio eufêmico em função de secar o suor de lento vagar. Dedos nas fissuras escuras do parapeito de madeira branco. Sobre as eventuais fendas farpadas com insetos miúdos vivos e mortos talvez possível lembrar disto. Agora ainda o calor.

Tudo o mais sempre fora isto de tal modo póstumo que. Permanência que dure o tanto a ponto dessas coisas não mais se fazerem necessárias.

II. primeira conversa com Taígete

Taígete toma uma maçã em mãos.

Mancha marrom onde afunda a pele dura. Adentro o dedo de Taígete até a carne alva gelá-lo de leve. Resiste pouco a que se faça a trilha até seu tronco.

A carne gela, não aquece. Há talvez quem conheça mucosas frias, o que é extraordinário, à parte os cadáveres.

Toma o dedo em mão, maçã ao olho. Ela diz.

Tumor nefasto, penso se como assim. Há a importância desta solidão esticada, os barulhos marulhosos da rua nem perto nem longe, coisas imponderáveis. Sou capaz de afundar o mundo e afundar-me junto, o capitão e seu navio, testemunha de ascensão e queda do primeiro e último mundo em trânsito silencioso destruidor do resto e de mim. Não: eu sou o resto. Sou capaz por exemplo na medida da generalidade fatal com que inicio algumas frases.

É Taígete, é dedo dentro fora, é olho, é crítica da ideação generalizante e fatal. Ela diz.

A dentada tão leve que dou é ou estranho carinho ou nojo e noto que pouco se arrancou dela nela. Aumento. Agora como assim se gorada ou não como.

Não é talvez da maçã que ela recebe isto, mas de todo modo recebe:

Pode ser que sinta um medo infinito. O medo eu já pressentia e ressentia, mas não em sua infinitude imediata nem em seu pavor insofrível. Algo me faz conhecer enfim algo de que já ouvira falar. Agora sim como assim se gorada ou como se.

Taígete é tomada pelo referido pavor insofrível: assombro sem forma nem fundo, pavor puro sem apoio em que tudo queima, seja de frio ou quentura, bruxuleia a carne, crepita a ossada e Roderico acorre nervoso em socorro. É por ocasiões como esta que Roderico já sabe mais ou menos, por exemplo, como Taígete prefere ser chupada.

Roderico, a imagem é mais ágil que o tumor?

Talvez o que interesse a Taígete na maneira com que ele se aproxima é quando se desendereça sua intenção, que almejava um cerne por ele suposto, e faz fisgar uma dor desconhecida desfiguradora às vezes no útero, às vezes nos seios, às vezes no rosto, respondendo com interesse à que já latejava. Interessam mais seus acidentes que suas suposições.

Roderico medita deste modo.

O abismo que é abismo e superfície rasa escura e superfície à mão do olho azul de Taígete. Simplicidade exasperante que no entanto não era exasperante e que agora, ainda que seja, basta qualquer coisa para que deixe de ser desde que não o pensamento. O pensamento sempre supõe o pior, por sensação a crédito. Para não correr o risco do mal depois, comecemos desde já até quem sabe quando. O depois absoluto, onde, se confirmado tudo, o eu sabia, se negado, uma estúpida felicidade intelectual, ponto em que tudo agora sim fez sentido, para onde convergiram todas as histórias em juízo final. Na minha compreensão tudo já acabou e estou num delírio que me diverte às vezes.

Que tumor?

III. segunda conversa com Taígete

Funâmbula toma um ônibus em mãos, pés, nádegas.

Olisbos Verpa gargareja boa noite. Seus dedos no copo, a verticalidade dos dentes amarelos, as marcas no lábio, a língua que vez ou outra aparece do fundo da boca.

Ele não diz, eu não pergunto. Um eco não tem por que nem como levantar a voz.

No terraço, escuridão marrom e grânulos de película, o frio do piso vermelho de cerâmica. Levanta e traz seu livrão do Ommer mostrando as bundas exultante. Algo contagiante no seu júbilo de ver um ângulo de bunda.

Havia banheiros amarelentos a curta distância, proximidade sonora de geladeiras, insetos, etc.

Taígete fala ter se tornado monstro, amorfidade sem parâmetros equiparáveis. Gosma cujos contornos se delineiam a cada vez: agora é: o poste, a ocridão da luz sobre o piso, a amarelidão do banheiro, a higiene alheia imediata como um raio. Os raios é que eram ela.

Verpa coloca a mão em sua coxa que pulsa forte. Já não bem se sabe o que quando pulsa mas algo comete algo.

A indiferença com que se espatifa no chão do chuveiro a água do banho os cabelos alheios a eles, as mãos, todo aquele corpo não tão distante mas completamente desconhecido. Ela escuta. Alegria equívoca de um sistema caótico. 

Eu vejo o banheiro e sinto o ar pesado, a água quente, som de contra superfícies, os cheiros, eu vejo o ladrilho amarelo, vejo o vapor que fica no espelho, no gesso inchado, vejo o vapor que sai em meio ao céu negro imóvel pelo basculante e o vento frio e curto que entra que gela sua nuca, vejo os calos de seu pé, os pelos que caem no ralo e arredores, as mãos precisas e suficientemente atentas, leves como ímãs, virando torneiras.

Eu quando anoitece e fica tão escuro e quando o silêncio aí penso somente então tudo isso pode ser que seja alguma coisa somente pela glória pouco óbvia vital de se ser desimportante.

Verpa com a mão imagina testemunhar um momento notável. Sem ainda comprovação verbal, sua boca abriu. Ele diz.

A coisa mais concreta que eu já pensei foi o seguinte: e o meu cu, será que teria coragem de sugar os meus testículos?

Agora aperta a coxa de Taígete, que não parará de se aproximar. Os dedos deprimem a carne, o sangue em franco recuo e correndo. Taígete exclama em silêncio deste modo.

Cadê Roderico, caralho?

Seu corpo dá um coice contido. Verpa de seu turno interpreta. Taígete medita deste modo.

Ele sempre conheci, desde nunca, já em supor familiar segundo certas designações gerais. Então em ruindo silencioso o circunlóquio, talvez me afogue em minhas veias. Estou distraída.

Verpa pondera e inquere em mudo rumor. Taígete o vê. Já nada se passa nele, mas olha a moça desde o rosto. O abismo que é abismo e superfície escura e superfície à mão do olho verde de vidro trincado. Sulcos curtos de mistério sombrio sem profundeza.

Taígete nota logo mais deste modo.

Arrasta a língua por meu cu.

Logo ainda mais nua deprime a pele o peitoril contra costela o seio esquerdo escurecido pela banda de madeira fechada da janela em cuja superfície a mão pousa já com pressão suficiente mas o olho conduz a que note deste modo.

O sol em seu cromatismo anestésico, âmbar agonizante submergindo em morros, parede externa enorme apartando humanos do universo, parturiente do alento, batida em retirada pela brisa morna. Segurança –

IV. catalepsia

Roderico medita deste modo.

Um dia enfim Taígete nos vimos nus e me sugou sem muita cerimônia o que foi um pouco excitante mas pouco porque o dia nem a circunstância eram muito excitantes. Deriva estranha da tarde silêncio gris prenúncio póstumo do tédio maiúsculo largo e os sons de sucção úmida vinham de repente desinteressantes. Deriva estranha da tarde tendenciosa para declive de ânimo frente às coisas em geral. Porque ela sugava então eu olhava seus cabelos da nuca e fiquei apavorado ante a ideia, que aliás deixava lenta e preocupantemente de ser apenas uma ideia e passava a ser uma experiência aterradora, de aquilo poder me entediar, que o sexo nem me agradasse ou conviesse. O caso agora, antes do sim e dos problemas daí era o problema enorme do talvez.

A cratera imensa que abria espaço para hipóteses e me distraía de meu pau de sua boca de suas mãos de sua saliva.

Outro destino possivelmente mais feliz se ela pousasse a boceta em minha boca e mijasse, por exemplo, ou rasgasse meu pau ou enfiasse algo meu cu adentro, muito bem também se me comesse.

Aí já passado o medo votado a qualquer consequência. Ideia cansativa, da consequência.

Roderico se cansa ao permitir perpetrarem os pés tamanhas distâncias. Há extraordinário escuro baixando na rua. Ao longe uma janela laranja imóvel o deixa empertigado por um breve instante esperando a aparição ligeiramente confortadora duma silhueta semelhante a ele. Haveria entreter-se socorrê-lo do medo em germe minimamente com a estranha ideia de comunidade humana, aquela que o tomaria quando visse quem quer que fosse fazendo o que quer que fosse pela janela no menor gesto desimportante desde que imponente porque distraído, um homem, uma mulher, nu, nua ou não, fazendo. Espetacular. Em vez, havia essa ausência não total, senão uma presença remota da ideia estranha, o laranja o lembrava dum dedo, cuja impossibilidade era quase impossível, que aparecia e premia um interruptor. Estava diante então duma presença diferente que pouco ou nada tinha de alentador.

Hora em que há um recolhimento muito singular ao redor.

A rua estica. Os prédios ligeiramente se inclinam em sua direção. Então agora um humano se aparecesse seria incapaz de fazê-lo ignorar o terror do arredor. A mais pura realidade do cerco se fechando. Silêncio de nunca antes em cujo bojo os sons estridulam em falso. Desta vez não importa nada, não há inteligência, senão a do pensamento que se possa querer antever que possa querer antever num corte à medida que corta, ou num buraco, à medida que suga e a de outro. Mas a antevisão não será de importância perante ser sugado, aliás e ou melhor, de fato põe por terra tudo, pois ser sugado não pensa, nem se presume. Apenas se pensa ser sugado durante ao se recusar pensar o pensamento que presume (o outro é isto, que somente faz porque desfaz o pensamento, que recusa por ora qualquer conteúdo). Depois, o se-sente-sabe-que-cessou, e também antes, o tudo-ia-indo-até-que: é recusar presumir. Não se presume ser sugado jamais durante ou antes, pensar aí assim é ter recusado a entrada de modo que presumir uma espécie familiar de fracasso e ressenti-la é cada vez mais se distanciar do ponto de ser sugado, ponto a que por sua mobilidade, mas não só, é impossível chegar querendo chegar.

Roderico desfibrilado pelo medo. A mão no peito e a expressão de espanto se desfazem ao dar-se conta de ambos.

Roderico medita deste modo.

Não alcanço jamais o fim da rua. Que a rua tenha acabado não coincide com o fim da rua. Chego a ele, mas ele não chega. O puteiro de veículos. Não somente de lataria, mas os veículos carnosos de objetivos permutáveis. Creio que vi longe demais. Estou vindo para o fim da rua e não alcanço.

Olhei pro chão vazio da rua, as setas brancas, o asfalto escuro amarelado, havia a curva da subida, eu vejo a dobra, e eu vejo no que vejo até o que eu não vejo de tal modo antever pode vir a ser ver, mas o que eu vejo, o chão imóvel desocupado silencioso, a curva interrompida, não, talvez não começada, não sei se já vi uma interrupção, mas mudanças de direção, essas sim, é vendo o que vejo que vejo o quanto é possível ver, o que está aí, mistério do sólido, mistério do sem lacuna.

Nesta goma negra duas pernas brancas atravancam avante desde o fim da rua. Os passos deprimem como podem o asfalto. Roderico escuta no mesmo longo silêncio os trovões mais próximos de pés ásperos contra o chão. Acima há um ventre. Sobre ele e seios, sacoleja um vestido. Então o rosto. Malena. Detém o há quanto tempo na subida da goela à boca, engole-o. Então exceções ao branco: sua boca aberta em língua e mucosa, o sangue no rosto e na veste. Os olhos fixando-se, vidraça inchada em estilhaço. Boca e olhos giram ágeis, ao vê-lo. Desaba sobre ele sem falar, talvez um gemido. Toma Malena em mãos. Corpo frio e úmido. Os cabelos em seu nariz e boca. Roderico invadido por um pavor insofrível. Uma onda lhe varre a consciência. Inspira. Segura-a. Expira. Levanta-se e olha avante como se então sim ele veria agora agora agora inspira e permanece algo corre ela tomada em mãos o buraco do rosto os seios grandes as costelas algo ainda permanece algo corre ela tomada em mãos ela os olhos escuros negros descendendo algo ainda permanece algo corre ela tomada em mãos ela tomada em mãos o buraco do rosto o rosto branco os olhos fundos negros lá atrás os seios grandes as costelas o rosto branco o buraco da barriga algo ainda permanece algo corre ela tomada em mãos as costelas o buraco branco do rosto os olhos fundos negros indo contidos tomados em mãos algo corre algo corre ela tomada corre algo em mãos o branco do rosto o negro fundo indo contido fundido corre em mãos ela tomada agora corre tomada corre em mãos.

V. Segunda conversa com Aziz

Marulho mudo canção sem cabeça dos homens sem anseio por que o vento sopre. Enfim o mundo sem notícias.

Não está ao meu lado aí me viro e o vejo. Ele, com a cara de algo se passa ou está para, pergunto se não vem. Claro que vou, ele diz e acrescenta que ir não é importante enquanto descemos.

Como se fôssemos sangue olhando ou lembrando do resto da corrente sanguínea conforme mova-se o êmbolo desde carros e luzes na rua. Quanto silêncio então, o primeiro.

Sua cara de é aqui é o retrato do final, ele diz, o não procure mais definitivo. O que ele esperava?

Deriva estranha e curta deitados na areia o olhar sem vertigem dirigido aos postes altos. Noite inspirada da Baía, cuja agulha odorífera espeta o cérebro pelo nariz.

Cada vez mais triste, ele diz, mas a tristeza vem e vai e se remedia. Estado promissor das coisas, ele sarcasma daquele modo. 

De onde você me olhou da última vez? Você me viu. Eu me lembraria. Você vinha, me viu, e passou. Onde você estava? Na árvore. Escondido? Não. Por que na árvore? Por nada. O que você fez nesse dia? Acordei. E depois? Desci até a árvore e vi você. E depois? Dormi. Na árvore? Não. Só? Sim. Não me ligou? Não. Não se masturbou? Não. Não? Não gozei. Você parou antes do fim. Parei. E depois? Acordei. E depois? Dormi. Não desceu mais? Não. Não me viu mais? Não. Por que não desceu? Não sei. Nem pela janela? A queda é alta. Não me viu nem pela janela? Não. Você ia à janela? Não. Já foi à janela? Sim. Por que não vai mais? Não sei. Faz muito tempo isso? É possível. Foi a última vez. Sim.

Ruídos no estômago, crepitar da ossada, saliva, gases, as mais variadas superfícies contra outras. Enfim este silêncio turbulento, mexido, nervoso.

E agora?

Concluo e inauguro.

Sua mão passa sob meu queixo. Um troço de mistério assoprando as vísceras, carne dos pés sob pele estranha, carne folgada sobre os ossos, artelhos de repente magros como nunca, cujos arrepios dão-lhes direções.

Fora de outro nada param quatro caras brancos bombados rindo passo duro no perscruto com aquele qualquer interesse secreto adivinhável na mão de um uma Orloff tosca. A mão dele ainda sob meu queixo hesita aí escuto o sangue em franco recuo e correndo e se chegam e tão perto que a boca dele se abre em pergunta aí o Orloff porra ele com a garrafa. Me ouço gritar ao som do vidro sem ter quebrado contra o osso. Ele não sangra mas a mão ao olho e o aberto me encontra estamos mortos.

Vão me foder e porrar ele já vão porrando ele berra. Começa a aparecer o sangue. Congelei furada de calor e frio me mijo uma mão fecha no meu cabelo que espicha e esfola o escalpo grito e me joga fora. É só com ele. Porram. Levanto. Sai porra me ouço. Como é que é e me murram. Me jogam fora. Chorando caralho seu filho da puta soco um crânio puta que pariu tem que acontecer alguma coisa. Me joga fora. Me chuta. Nada nele sangra mas fica putinho. Me levanta e me bate na nuca. Sai sua puta de merda. Ai porra minha boca não forma palavra nem uma nem outra socorro nem essa.

Não me deixam me agarrar a ele. Não posso mais o puto ficou de guarda. Pegam pela gola e dão socos, quebram o rosto, o sangue espirra quando cospe, soluça. Não chora, afoga da raiz escura do grito desde a porta. Socorro. Aí me soca o rosto. Eu ali nada, não me foder junto é só com ele. Minha roupa rasgada eles pensam. O pau duro, ele quebrado mas agora de fato dele desocupados já devidamente posto de lado sangrando sozinho, e o caralho desse merda em mim, seria, os outros devidamente assistindo jurando que o pioneiro gozará breve termo. Não sei e me vejo mostrar a buceta. Eles olham. Será isto então se eu grito, enquanto, me murram. Tirado, aí só, um caralho duro sopio grosso da bermuda mas vão ainda nele mas agora posto a nu. Entendo o centro e berro. O guarda puto avança e me derruba. Me murra a cabeça ela fende eu escuto a descostura. Engulo areia zonza vejo viram ele de bunda exame ao cu cospem enfiam o pau ele grita, a cabeça dele afundam na areia. Olho ele amansa eu ali nada.

Olhando da terra água me cobre emudece gélida. É noite nada se ouve. Um pouco de areia à boca, e alguma conclusão mas nenhuma. Levantar. Sem mais me vejo a boca suja engoliu a terra. Toda luz se dilui. O calor impede de pensar, a terra roça na língua, na garganta, pés descalços, contra terra, e terra contra pés, corpo contra ar, contra som, impedem de pensar.

Andar. Murro rumor tinindo ainda toando tão longa loa em rumo nenhum apesar afinal somente avante estranha deriva não toco a profundeza da fenda morna na cabeça. Sangue dele em mim também.

É noite nada se ouve.

Clarão laranja vivo de fogo que vara todo um espectro da rua. Avenida cujo leito é fogo, não me deixaram chegar perto do corpo na exaustão das tripas, na implosão nociva, na intrusão de todo tipo de mutilação. Agora clarão laranja que funde tudo na rua, terrível comunhão de corpos, um grude de carne em fervura. Sem outros rumos carros gente movimento nele avante e contra avante. Clarão em que há clangor de bicho, rufar de plásticos pesados, baques e estalar de costas costelas e crânios, vociferações de vísceras entre dentes, bramidos frutos de corpos partidos, espremidos, postos do avesso, ouve-se o estalar da gordura que pinga das carcaças assadas em fogueiras e o cheiro subindo a um céu sem deuses em noite de silêncio e lua vermelhos, mas o silêncio e o mistério do preto e dum luzir mínimo infinito.

Cada coisa cada vez sim pois nada pode impedir ou pretender deixar impedido agora o que exploda de terror e assome numa réstia improvável no meio a tanto clarão pois isso como seria vislumbrar outra luz em meio a tanta luz senão uma mudança ligeira num acorde talvez isso mesmo um som ou uma luz ou um cheiro ligeiramente diferente um tempero ligeiramente diferente então algo assoma na carne da rua que não bem é bom mas quem sabe seja talvez uma lufada duma brisa acima do calor overdósico que afunda a respiração num imenso suor e bafo letárgico alérgico ao tempo rosto e cu proibidos ao que não seja que horas são ou que dia é hoje agora não agora essa brisa que é a primeira brisa esse vento que é o primeiro vento que na verdade não bem antes não ali mas somente nenhum acesso a ela a ele ela ali talvez já ia e iria sem dar-se a quem fosse a que fosse também isto é o que ao olhar e sabor de quem o vento parece vida parece vida traduzida no movimento do nada vento é nada em movimento cabe inquirir ou afirmar ou apostar com vistas a dizer a alguém logo mais vento é nada em movimento.

Quentura ao ventre o peito o rosto daqui a pouco recuo e tomo em mãos a maçaneta, saio do jardim, entro em casa. Quarto tornado rosa sob dia e odores longos em cujo talo paredes crepusculentas sons e cores erráticos somente inícios silêncio da vida em geral enfim escurece barro áspero sob unhas. A lua rasga alegre o corredor que minha irmã atravessa sob seus cabelos e o cheiro deles fui salva eu pinço seu braço quando passa por mim pra que me olhe e me escute com alguma atenção de um modo ruim de cair. Depois de comer e quando vamos dormir, os mosquitos zumbem nos ouvidos e nos estapeamos irritadas e depois rindo.

VI. terceira conversa com Aziz

Delirei agora a casa abandonada. Pensar abandono é moralizar. Vazia.

Estou aqui mas a uma certa distância. Não devo falar casa. Não devo. Construção tal em que paredes determinando cômodos, querendo não deixar alternativa.

Paredes margeando salas, continentes de atmosfera poeirenta, rumor dos pelos mais leves que o ar levitando. O sol rasgando o peitoril, o piso, pessoas mortas e um quadro com Jesus.

Delirei não isso. Cratera inabitável, péssima qualificação, por que penso em habitar, se nunca vi nem um cu inabitável, se não sei como viver? Cratera também não hostil, por que suponho duas naturezas, por que dou a elas qualidades?

Delirei quase isso.

Se estou, não é que habite. É fácil uma ideia roer que eu esteja. Estou quase aqui.

Posso falar de quando tento me desvencilhar de minha xoxota. A ideia em si, por mais dura, é a mais desculpável. Posso discutir com ela. Não é como minha boca ou o índice em geral equívoco de uma proveniência como o umbigo ou como ela.

Duas semelhanças jocosas: odor grosso dos sovacos, e mucoso da goela. Mas não se trata disso. Mas da mobilidade dela por toda parte. Localizava em mulheres oriundas de úteros alheios, chamava de amor, adjacências, derivados. Somente em parte, o erro. Deve haver mulheres saídas desta xoxota.

Talvez quando criei estes sulcos no antebraço, por exemplo, fosse desvencilhar-me da xoxota. A demora na clareza da formulação fez render algumas auto mutilações fundamentais. Não fiz ainda duas, adiadas: cortar veias, tendões e nervos que me comprometeriam o uso da mão esquerda; decepar o pau cessando relações excessivamente determinadas com esperma e cortando a possibilidade fisiológica de auto-fecundação. Mas não devo supor uma mútua exclusão entre a xoxota e o pau. Talvez fosse emblemática da confusão no estabelecimento dos termos.

Uma dessas delas eu detesto. Cheirosa que finge burrice em proveito misterioso. Maestria destra de um boquete, por ela aliás já a consequência de amor seguindo olhar oscilando entre aparente concentração e deriva débil.

Somente talvez ofendida se levanta e quando se foi e fechou a porta e cortou o rabo do rastro perfumado, ou porque sinto na cratera a brisa cujo som agora a porta abafa, o perfume dissipando e sons amputados de algo – do amor a face movediça.

Tinindo no chão, o sol se estende nos tacos tanto quanto em geral dura o menor dos tédios.

Aí outra:

O que me dá de endereçar-me a ela. Malena. Sem padecer do transcurso e previsões. Evitar as segundas e delas, a ninhada. Malena longe em tão movente mutismo. Toda a larga boca dentes tão antigos quanto possa lembrar será possível lembrar disto sempre a pergunta. Já cravaram em alguma carne para quantos fins, de rasgar e comer, de furar, de marcar, de raspar.

Aí hoje à praia nos vemos. Aspiro leve odor dos sovacos duma camisa por cima das coisas. Atrás de meias, também sorvo os sapatos. Abatimento de toda esta verificação. Afogar a tarde na merda sórdida. Negociar primeiro o tédio, depois a vida. Se bem que aquele nesta. Aliás foda-se. Aquelas indo idas, também estas aqui ali sob menor custo alguma hora devem se fazer desnecessárias. Licença.

quarta-feira, 18 de março de 2015

amigo

Willy Ronnis























para um engano

com sua cara púrpura de europeu me disse que me vira onde eu não estivera e fiquei curioso para saber onde mais estivera onde não estivera. Pedi que me ligasse quando me visse onde não estivesse.

talvez tenha mesmo - pensuando-ei - sido eu mesmo que vira quando vira outro dia entrando em ônibus pela cor e pele familiares em excesso embora ele purpurrosa riso visava ti-vêsse uma foto que me mostrárava e érava eu mistura cuja concentrassárava me confundisse-me-disse e a confussão suficiava soubendo érava eu.

Me ligou me disse que diante-me - pedi-lhe que falasse-me - respondia-eu que não podia-ôde em videvisse eu sisando ao celular. Olhei pra trás e lá estava ele badalando seu piru no seu sem cueca cômico em shorts folgados sino da pilhéria chamando à missa da compreensão conciliadora total para todo efeito e modo inútil e via o volume do piru badalando frente trás e seus braços erguidos em vitória rindo como se algo tivesse acontecido e sendo ali mas não mais que ali além de uma piada uma mão segurando o celular a outra apontando para a outra me explicando a piada excesso de positivista autoconsciente.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Basbaque X

drink up
dreamers
you're
running dry
Peter Gabriel

No smiles
no supposed mutual understanding
no looks
only in a nothing-to-do-with-anything kind of way
no fucking
in a way
but certainly
in another
("My dear, I'm working on the most marvelous invention... a boy who disappears as soon as you come, leaving a smell of burning leaves and a sound effect of distant train whistles.")
no second intentions
enough with those
the mission taken then of
just caring about first intentions
since
"we are meant to be seen
and not to be understood".
and in a caring way
you say to your former and/or current
(whatever former and/or current:
parent, lover, friend, stranger, etc.)
in a deep first intention-based way
yelling
"I SWEAR IT WAS NOT MY CHOICE"
and you stop and listen to what you've cried out
and you sorta like the sound and the feel of that
and you yell
"I USED TO BE SO KIND...".
And you quit Marling for a bit
and recall over-quotted Hamlet's
need of being cruel only to be kind
as drags Polonius corpse elsewhere
and you get confused.

Que tumor?

The matter being that of being chosen
rather than choosing
no matter how fucking much
you may imagine yourself
as being able
to choose.

And you simply
(because it's so simple)
don't know what you're doing
you're running out of premises
which are
in a second-intention way of speaking
vitally important when you want to make sense.
When you want to make
strictu-sensu-sense-based-choices,
that is,
second-intention-sense-based-choices.

if you don't,
you just move
and it's good
and it's bad
because life
seems to be
in fact
nothing
told by an idiot, etc.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

Basbaque IX

Lake Bell























Talvez eu possa vir a me interessar por minhas cicatrizes de modo igual ou, se não, de modo que trave algum parentesco a como minha mãe me mostrava e ainda às vezes mostra as queimaduras de passar roupa ou de cozinhar ou sua tatuagem no tornozelo. Menos por uma suposta gravidade absoluta supostamente intrínseca a “uma certa mulher chamada mãe”, que pelo mistério desde priscas eras de uma rosa mínima no tornozelo que faz acenar o verde o vermelho e o espinho o caule e todo o seu movimento contido na cor na pele (e as rugas da corola que são algo um rosto de algum modo traçando algo uma expressão inadivinhável) e de um corpo que funciona de modo diferente do meu, cicatrizes não-extraordinárias, que ignoram ou de todo modo não se valem de coisas como soberanas fantasias de amor conjugal frustrado tórrido com desenlace estúpido num cigarro me beijando o antebraço, mas de algo tão imperativo e impessoal quanto o café da manhã e ainda conservar um mistério que não posso pronunciar.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Basbaque VIII

uma broa de milho no café até parece um preço nem tão salgado
eu poderia pagar se não fosse essa coisa constante de nunca ter
[dinheiro
até já cansa reclamar desse tipo de coisa
é um problema que todo mundo persegue padece
mas na verdade talvez se tenha
várias maneiras de não ter dinheiro e de reclamar deste mesmo
[problema
mas eu não tenho
inspiração de fazer alguma coisa a respeito
o que também é outra maneira de mesmo padecimento igual
essa coisa impotente banal de ter a mesma coisa sempre
que você quer fazer um pouco diferente
e ainda assim não ver a a sua caveira.

na verdade não eu não posso mais
seguir
pois toda vez que você quer que eu diga que dá
ainda
eu sei que dá
e por isso é que eu não quero mais
porque eu sei que sempre estaria errado na minha convicção de não
[poder
mais
enquanto impossibilidade
na verdade eu tenho que entender que a minha vontade
de parar
de parar
de parar
não tem a ver com as possibilidades reais
colocadas ou a serem colocadas no mundo
mas só que na verdade talvez não haja como resolver o problema
isso todo mundo pelo menos sente se não sabe
na verdade não tem como resolver nenhum problema definitivamente
ou melhor
tem
como resolver o problema
mas a questão não é tão resolver
o problema mas a questão
é que os problemas nunca param de se colocar
e talvez eu tenha me cansado
de ter que lidar com eterna colocação de problemas.

eu dizia sobre o fantasma, quer dizer, nada disso, sobre o café
naquela vez você não me pôde dizer
o que foi que te incomodava em mim
mas eu bem sabia que você não queria
dizer
na verdade eu bem sabia que você não podia dizer
porque você bem não sabia o que era
era mais uma sensação terrível
que você não conseguia desvencilhar ou alguma coisa do gênero sim porque na verdade eu já tive várias vezes coisas bem parecidas
eu não consigo dizer
talvez não queira dizer
eu não quero dizer
talvez não consiga dizer
mas na verdade
na verdade eu não gosto tanto de dizer na verdade
na verdade parece que eu já entendi
e vou te falar qual é a parada.

qual é o problema na verdade
eu não posso dizer
porque essa é a questão
quem será que pode dizer definitivamente
na verdade o problema é achar que alguém pode dizer
definitivamente
o problema não para de se colocar
e essa é a questão
essa é a questão
essa é a questão
por exemplo assim não dá
alguém chegar e dizer qual é a questão
quando quem como
essas questões também não param de se colocar
por isso que uma teoria é tão difícil de se fazer
teoria é tão difícil de se fazer
e eu não quero mais ser a pessoa te dizendo o que fazer
e nem como deve amar alguém ou alguma coisa por aí.

eu não quero mais ser aquela pessoa
que pode te parar
te impedir
ou te sugerir
alguma coisa
eu não quero ser essa pessoa
porque na verdade não acredito muito que possa haver uma pessoa assim com esse tipo de poder
que possa te dizer o que fazer
no que você pode acreditar do que ela tem a te dizer quanto a você.

todo mundo sabe do que se trata não preciso continuar como se fosse
[professor
essa coisa assim
que quer ensinar as pessoas a viverem suas próprias vidas
eu não quero continuar
por isso eu vou falar de uma coisa sobre a qual eu tenho algum domínio apesar de também não saber muito a respeito
que se trata de mim
de mim
eu queria poder parar de falar eu
mas sou meio viciado nessa coisa de falar eu
blá blá blá eu eu eu
blá blá blá eu eu eu
eu ainda não entendo toda essa voracidade de continuar nessa primeira pessoa terrível.

eu queria poder ser alguma coisa interessante
não pra humanidade
não pra humanidade
nesse sentido
calorosamente
carinhosamente
foda-se a humanidade
não porque eu seja mais importante
hierarquia que se coloca como questão quanto a nomes
mas é porque eu faço melhor à humanidade
se não falo escrevo ajo em nome dela, nem no meu ou em outro
não me preocupando com ela.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Basbaque VII

Fato é que eu não corro mais
qualquer vez que você fizer correr.
Fato é que eu não posso mais,
também pudera, tanto eu fui correr.
Fato é que eu não quero mais
aquilo por que tanto já penei.
Fato é que não sei precisar
quando se quer quando se deixa de querer.

Já no café da manhã eu mesmo não posso suportar a minha voz
que me diz mais ou menos a mesma coisa que me diz quando me diz
[alguma coisa.
Mas se eu calo e olho pra parede, aí pode interessar escorregar,
como se, e na verdade sim, não importasse bem o que eu pensasse.